Mulher da Amazonia

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013



A GEOGRAFIA E O COTIDIANO CONTEMPORÂNEO DO BAIRRO DA CIDADE VELHA: A MEMÓRIA E AS FALAS SOBRE O LUGAR




                  Maria de Jesus Benjamin da Silva.

                        Mário Benjamin Dias



Trabajo Nº: 5063 contrasenha 411j7



5-Dinámica urbana



Presentador: Mário Benjamin Dias

Primer Autor: Maria de Jesus Benjamin da Silva





Com o passar do tempo às cidades se transformam. A cada ciclo econômico, uma nova imagem e uma nova configuração urbana se formam. Um passeio pelo cotidiano da cidade de Belém mostra que a cidade hoje, é uma totalidade de territórios reservados ou codificados para um determinado uso, uma totalidade de aposentos, de fatos, de acontecimentos, de tradições, de histórias e de memórias que o esquecimento encobre na viagem.

Do bairro da Cidade Velha ao Shopping Castanheira, do antigo centro aos vários centros e subcentros descentralizados, do tacacá ao hambúrguer, dos conjuntos habitacionais onde uma força de trabalho disputa metros quadrados de espaço pouco habitável à monumentalidade de uma Estação das Docas, do Angar e do Mangal das Garças; "a cidade se espalha em milhares de olhos, em milhares de objetivas" (Benjamin), se fragmenta no trânsito, no comércio, na publicidade, na moda, no trabalho, na festa nas relações de vizinhança; se mostra com outras fisionomias, menos no carnaval, que é de todos, embora mais profissional na violência e na engenharia de som, resistiu, permanecendo no centro tradicional. O olhar pouco crítico e o devaneio observam e registram particularidades irreverentes que determinam a geografia e o cotidiano contemporâneo da cidade, sem a nostalgia dos tempos em que a elegância, a economia e o poder desfilavam na rua

O primeiro bairro de Belém, criado no inicio da fundação da cidade antigo endereço do poder estadual. Atualmente com função e significação plena, é um bairro que guarda na sua arquitetura e na organização espacial a memória de um passado; teve sua sintaxe e sua semântica alteradas, em meados do século XX, por uma cirurgia urbana que demoliu alguns prédios tombados pelo patrimônio histórico, sofreu a violência de certa noção de progresso que sempre danificou cenários de muitas cenas da cidade que saíram de cartaz. O prédio da Prefeitura Municipal e o Palácio do governo instalada nos arredores do bairro, ou melhor no centro histórico, serve apenas para visitação pública

Vários projetos foram arquitetados para o bairro, sem o encanto de uma arquitetura "pós-moderna", mas acabou se acomodando ao ambiente, estabelecendo uma dialética entre o novo e o antigo.

As Praças Dom Pedro II e do Relógio um espaço público para o luxo de outros tempos, hoje, simbolizando a favelização dos espaços públicos, uma espécie de periferia em pleno centro. A imagem de um cotidiano tenso, sem afetividade, sem credibilidade; o fim das praças como um lugar de encontros, de ociosidade, do flerte, do uso do tempo livre para o deboche da vida, serve apenas de recanto para mendigos e de passagens para outras pessoas se deslocarem até seus pontos.

É como se a cidade rejeitasse o seu passado, a sua memória, para viver um presente sem história. Mas sem o passado sobrevivendo no presente, não haveria duração, somente instantaneidade.

Neste trabalho foi importante fazer uma análise da vida cotidiana dos moradores, trabalhadores, excluídos entre outros, do bairro da Cidade Velha, uma vez que se constituem sujeitos da história, seja quando descrevem o lugar onde moram, casas, apartamentos, entre outros - onde quer que estejam localizados -, seja quando procuram, o poder público para, "na tentativa de reivindicar benfeitorias para resolver" os problemas urbanos que aparecem como sendo resultado da concentração dos pobres na cidade e no lugar.

O relato de pessoas consideradas importantes no bairro no caso o pároco da igreja da Sé, fica claro que as condições da reprodução da sociedade variam no tempo e no espaço, neste sentido, a dinâmica urbana deve ser analisada enquanto momento histórico determinado, no movimento do processo de reprodução continuada da metrópole, de segregação espacial, revelam profundas transformações na vida cotidiana uma vez que segundo o relato do padre “o bairro da Cidade Velha é muito descuidado pelas autoridades”. Apesar de uma ou outra providência, o esforço é nulo diante de tantas exigências. Ruas mal iluminadas têm contribuído para o aumento da marginalidade do bairro que se de um lado tem o mercado do Ver-o-Peso com toda sua exuberância de uma feira com produtos exóticos, diversificados entre outras coisas, em outro ponto o mercado do Porto do Sal também com produtos exóticos e diversificados, ambos contribuem para aumentar a marginalidade, prostituição, latrocínios que são fatores importante no aparecimento de grupos de pivetes, e uso de tóxicos. A iluminação das vielas do mercado do Porto do Sal foi conseguida a duras penas depois de muitas lutas junto ao Prefeito de Belém, mas ainda assim o problema ainda não foi todo sanado.

Dessa forma, como qualquer outro lugar o bairro não possui uma infra-estrutura urbana adequada capaz de atender as necessidades de sua população, como a falta dos serviços coletivos, equipamentos urbanos,suficientes.

Hoje, depois de dez anos da entrevista feita com o vigário, a situação do bairro não difere muito. Não é mais o bairro, com seu ambiente tido como artificial, que provoca tal degradação, mas todos aqueles que moram em lugares fétidos, (onde as casas são insalubres), os lugares responsabilizados pela propagação das doenças. Nesses lugares procuram-se uma solução técnica tentando desaglomerar as pessoas, ou pelo menos confiná-las em lugares não visíveis, em verdadeiros guetos.

No caso da Cidade Velha, desde início do processo de crescimento mais expressivo da cidade, no teor ao nível dos discursos, é sempre destacada a necessidade de melhores serviços para o bairro. Sabe-se que a atuação desses serviços não se faz efetivamente para acabar com os problemas das casas ribeirinhas que ficam na orla da baía do Guajará, e onde os detritos são depositados na orla da Baía do Guajará, mas se tem como proposta é a erradicação dessa situação, pois pobreza é considerada causa de "contaminação" física e moral, foco de promiscuidade de imoralidade e violência

É o caso dos pequenos casebres de madeira onde se aglomeram inúmeras famílias, sem saneamento, iluminação adequada ou documento de posse dos terrenos. A descrição, embora se encaixe perfeitamente a muitos bairros periféricos de Belém, pertence a uma área central da cidade. O final do canal Tamandaré e a orla da Baía do Guajará e na saída de alguns portos, a exemplo Porto do Sal, foram inteiramente tomados por casas, onde um número considerável de famílias, vive nessas áreas que semnehuma infraestrutura é o mesmo drama das baixadas belenenses. A área pertencia, inicialmente à União e mais tarde foi repassado a PMB, um grande número de famílias, no entanto, habita sem respaldo legal.

Portanto, nas falas dos sujeitos pesquisados revelam a dinâmica urbana indicando o processo de reprodução, tanto no plano espacial, de um lado, sua dimensão econômica e política-estratégica, e de outro, o plano da vida. A prática sócio-espacial se revela nos modos de uso, pelo conteúdo das relações sociais aí contidas apontando, hoje, o empobrecimento destas relações.

A cidade aparece, hoje, como o espaço da desordem e do caos, da barbárie; contribui para esta impressão, o estado de alerta em que vivemos num cotidiano invadido por todo tipo de violência: roubos, seqüestros, tráfico de drogas que dominam e comandam áreas inteiras da metrópole, a normatização dos espaços públicos, as renovações urbanas que destroem os referenciais da vida, etc. A vida cotidiana mostra como as pessoas vivem, revelam a prática social, e como escreve Henri Lefebvre, levanta um ato de acusação contra as estratégias que levam a este resultado confrontando o real e o possível. Estas situações apontam uma crise – decorrente do modo como a reprodução da metrópole se realiza sob a égide do capitalismo. A dinâmica metropolitana revela este movimento.

Para os moradores do bairro, mesmo morando na parte mais antiga da cidade, não fogem à regra os padrões dos modelos ideais de saneamento, serviços coletivos habitação estabelecidos. Algumas vivem ali mais de trinta anos e se tivessem que sair não teria para onde se deslocar. A população que moram hoje no local, certamente enfrentam todos esses problemas, mas enquanto o poder público local(PMB) não olhar para a área com a intenção de melhorar os serviços do bairro, “enquanto o dia não chega o jeito é ir levando”.

Nestes discursos não fica evidente onde se situa o limite entre o grupo social dos trabalhadores pobres e das “classes perigosas" pois é o lugar onde se mora que é definido como foco de contaminação. Assim não existe um lugar proposto para edificação de novas moradias para essa gente, o que demonstra è a tendência da segregação espacial e da visibilidade da segregação. Quanto à visibilidade da segregação no bairro basta fazer um passeio pelo mesmo, através das ruas, e das avenidas principais.

O que fazer para melhorar as condições de habitabilidade de um bairro como a Cidade Velha? Como suas ruas estreitas, encanamentos antigos, casas com infiltrações, rede de coleta de esgoto deficiente iluminação pública falhando em alguns setores, calçamento irregular e cheia de buracos, bocas de lobo e bueiros escancarados, construções novas substituindo uma arquitetura histórica e singular, são detalhes que uma pessoa bem atenta percebe, bastando percorrer o bairro.

Engels, na análise da situação da classe trabalhadores na Inglaterra, na metade do século XIX, aponta para esta não-visibilidade da pobreza, ou seja, para a segregação da pobreza e seu isolamento, pois seus sinais não são visíveis nos bairros burgueses (Engels, apud Lefebvre, H. 1969. P.20).). A análise de Engels faz parte de uma preocupação com a condição de vida dos trabalhadores e com o movimento operário, demonstrando a precariedade da vida e da moradia.

Sem dúvida, esta tentativa de afastar a pobreza e os pobres da "área principal' da cidade é um dos objetivos da urbanização levado a efeito pelo barão Haussman, na metade do século XIX em Paris. "O barão de Haussamn substitui as ruas tortuosas, mas vivas por longas avenidas, os bairros sórdidos, mas animados, por bairros aburguesados. Se ele abre "boulevards", se arranja espaços vazios não é pela beleza das perspectivas, é para "pentear" Paris com as metralhadoras".( Lefebvre, H. 1969. P.20).

Fica evidente a princípio, cada um no seu lugar, no tamanho e na forma, proposto pelo poder instituído e considerado competente para ditar normas. Tem-se aí um demonstrativo de que a intervenção na cidade representa a intervenção na sociedade e que esta se dá com a intervenção do Estado, através de seus diversos agentes.

Verifica-se todo uma configuração de um corpo teórico que privilegia a técnica como recurso para "resolver" os problemas urbanos e torna habitável a cidade, para quem, "merece", é claro, pois o salário, o lucro, a renda e os juros aparecem como a justa remuneração pela participação de cada um. Se o salário aparece como justa remuneração do trabalho, só quem merece ganho um salário que lhe permite usufruir da cidade com certa qualidade de vida, isto é claro, além dos proprietários dos meios de produção e dos proprietários de terras.

E assim tem-se uma parte da cidade equipada para quem pode pagar, pois "merecem". Como resultado, há várias cidades na mesma cidade, segregadas entre si pela riqueza e pobreza de seus moradores. Neste sentido, todos os argumentos da escola keynesiana de bem-estar social da distribuição da riqueza. Da intervenção para minorar os problemas da pobreza e, portanto de contaminação, parece ser um benefício que é "dado" pelos que produzem a riqueza aos que não produzem.

A concentração da pobreza, das massas de despossuídas, faz com que se modifiquem substancialmente a forma de percepção da pobreza em relação a idade clássica, na qual a pobreza era vista como virtuosa e próxima a Deus. Uma vez concentrada no espaço urbano, passa a ser ameaçadora e perigosa. Torna-se, então necessário (re)conhecer o novo fenômeno.

Através dos discursos dos que se dizem competentes (o poder local, médicos engenheiros, sanitaristas entre outros) é possível analisar como o meio é considerado determinante para moldar os indivíduos na sociedade. Parece pelo menos em relação às cidades, que o discurso geográfico do homem relacionado ao meio (físico) das correntes do pensamento, alemã e francesa, é adaptado para a visão de que o homem é produto do meio social.

Enquanto a geografia se detém na relação homem-meio (físico), a intervenção na cidade e na sociedade se concretiza nesta mesma relação homem-meio (social). Lugares fétidos, escuros, promíscuos, com gente amontoada, degeneram o homem, ou pelo menos não formam homens capazes. Já os lugares arejados, iluminados, separados formam homens sadios. Do mesmo modo, as regiões tropicais, nos mitos de certa geografia, produzem homens indolentes e países subdesenvolvidos, enquanto nas regiões temperadas os homens são mais fortes, mais trabalhadores e os países são desenvolvidos. Este aspecto do homem com o meio (social) carece ainda ser melhor, avaliado da geografia humana. Só foram encontradas, nos autores do período, referências mais explícitas à produção e a divisão em classes sociais nas cidades em Kropotkin e Reclus. (Kropotkin e Reclus. 1986/87, 1985).

Assim sendo nas falas está presente o fato de considerar-se o trabalhador pobre como aquele que dá apenas despesas ao País. Não é considerado produtor, apenas um frágil consumidor. Como diz Milton Santos, esse não é considerado cidadão, pois não consome.

Os moradores do bairro, nas entrevistas, falam de sua importância frente às práticas e às relações sociais que os incluíram perversamente no urbano. Negaram-lhe o direito a uma cidadania não coisificada e mercantilizaram o desejo. Falam também das relações sociais que lhes parecem descoladas de si mesmo, automatizadas, naturalizadas e deificadas e que assim, livres, criaram a escassez de morar no bairro com dignidade. A noção da realidade negadora perdeu-se e os indivíduos consideram normal aquilo que lhes acontece e comportam-se de acordo com o que foi internalizado. Dessa maneira, o que o sujeito percebe é a sua única possibilidade de percepção, pois os sentidos que percebem foram já construídos e ele aceita que o espaço econômico, social, injusto, objetivo, externo ao homem, torne-se espaço subjetivo, introjetado e vivido. A internalizarão trazem para o primeiro plano a questão da mudança daquilo que é percebido para fazer frente à engenharia social que cria as necessidades.

De um modo geral, o trabalhador pobre está sempre presente nas falas, não porque é um indivíduo que produz, mas porque é um fraco consumidor da cidade. E, no caso da tentativa de sanear a sociedade e a cidade, são referidos pelo lugar que ocupam nesta. Está cada vez mais presentes nas falas, a técnica como a possibilidade de sanear as cidades e o crescimento econômico com que anulará o atraso das áreas carentes de serviços públicos nas mesmas. Novos termos são também utilizados, o moderno é a parte rica, e a parte equipada das cidades. O antigo, atrasado, arcaico, onde moram os pobres. Cidades modernas são ricas e as arcaicas são pobres, quando o que deveria se levar em conta seria a riqueza e a pobreza de seus habitantes.

Portanto, a rapidez das transformações em função das mudanças no setor produtivo, apoiado no desenvolvimento da técnica, reproduz a cidade num outro patamar, cada vez mais articulada ao plano mundial. Assim, a cidade é a expressão de uma realidade específica singular, mas também, universal, aquela da sociedade urbana que se constrói revelando-se no plano do espaço mundial.

As referências urbanas apontam e marcam a relação entre a construção da identidade (sua constituição a partir da vida concreta) e da memória, que sustenta a prática. Portanto a destruição dos espaços aonde se desenrola a vida, coloca a identidade cidadão/metrópole num outro patamar, agora definido nos limites do mundo da mercadoria e do desenvolvimento da sociedade de consumo – neste momento incluindo o consumo do espaço. O movimento de generalização da mercadoria - espaço impõe mudanças substanciais ao uso dos lugares, redefinindo seu sentido, através da imposição de mudanças no modo de apropriação, invadido por normas bem definidas. Na metrópole, as novas necessidades impostas pela reprodução econômica impõem-se enquanto ruptura na morfologia, nesse processo, cria-se o não-reconhecimento do habitante com os lugares da vida e com o outro - como conseqüência a perda da identidade que sustenta a memória – ligada ao empobrecimento das relações sociais pela perda / esvaziamento dos usos dos espaços públicos.

A morfologia de Belém, hoje, parece revelar as formas destinadas a expressar o espaço sem espessura, à aparente ausência de traços do passado assolado pelas formas da modernidade, que agem sobre a constituição da identidade cidadão/cidade, indica que as “novas“ formas possuem novos conteúdos, novos usos e modos de uso; redefinindo as relações sociais. Significa dizer que, neste processo de mudanças, redefinem-se as dimensões da metrópole, a estética das formas urbanas, os usos do espaço público, as relações entre os indivíduos e entre estes e o espaço. A reprodução da metrópole, pontuada por vias de transito rápido (que marcam a construção da cidade do automóvel), eclipsa a rua, esvazia o centro, produz o shopping center, redefine as relações com o outro (o vizinho, os amigos, os parentes, o transeunte, etc.) enquanto modo de perceber, no espaço da realização da vida.

Aqui se realiza o desencontro cidadão metrópole - como momento do processo atual de reprodução do espaço, nos interstícios da produção de uma nova relação espaço-tempo. Invadido por um novo ritmo, as transformações morfológicas da grande cidade, impõem a reconstrução de um novo modo de relação entre o habitante e o espaço.

Portanto, este movimento refere-se ao processo de constituição da sociedade urbana de um lado e do espaço mundial de outro, realizando-se de modo contraditório. Em decorrência desse processo, por exemplo, se funda uma “nova identidade” onde o habitante do lugar - invadido pelo mundial vê sua particularidade em questão. Neste momento, a ruptura produz outro plano onde o indivíduo se reconhece e se identifica num espaço mais amplo, pela mediação da metrópole entrando em contato com o mundo.

Através desta mediação o local se articula de modo inexorável ao plano do mundial - aquele da constituição da sociedade urbana - com a tendência a instauração do cotidiano, a extensão do mundo da mercadoria, o aprofundamento das relações de mercado, revelando a constituição de uma “nova urbanidade” que afronta e explica esse processo de constituição de uma identidade abstrata fundada no fato de que o habitante pertence a uma totalidade mais ampla e vasta do que o universo do lugar e da vida privada.

A vida cotidiana mostra como as pessoas vivem, revela a prática social, e como escreve Henri Lefebvre, levanta um ato de acusação contra as estratégias que levam a este resultado confrontando o real e o possível. Estas situações apontam, uma crise – decorrente do modo como a reprodução da metrópole se realiza sob a égide do capitalismo. A dinâmica metropolitana revela este movimento.

Partindo do pressuposto de que as relações sociais se realizam, concretamente, enquanto relações espaciais, a dinâmica do espaço urbano deve ser entendida na dinâmica do processo de reprodução social – a metrópole como realidade e devir da sociedade. Portanto o que deve ser analisado é o modo como a reprodução espacial se realiza, hoje, na metrópole, enquanto reprodução da sociedade.

O processo de acumulação se generaliza no espaço ao mesmo tempo tornado condição e produto deste processo. Neste contexto, o conteúdo da urbanização apareceria como momento determinado da reprodução em função das novas possibilidades/necessidades de realizar a acumulação. O espaço é também condição da produção e, do ponto de vista do capital, ganha uma dimensão instrumental, do ponto de vista do estado - que regulariza os fluxos e controla a sociedade. O espaço – aparece como instrumento de dominação estruturando a reprodução das relações sociais de produção.

As condições de reprodução variam no tempo em função do estágio do desenvolvimento técnico e científico aplicado à produção, o que produz mudanças espaciais dos valores de cada lugar na reprodução geral da sociedade - é quando se articula os fixos, no espaço e a rede de fluxos exigindo uma nova configuração. Por sua vez os mecanismos espaciais repousam na justaposição entre o local, o regional e o nacional e, nesse sentido, o espaço inteiro torna-se o lugar da reprodução, que se realiza tendo como pano de fundo o mundial - o local se torna global e o global se localiza no lugar, enquanto condição de sua realização.

A problemática urbana se revela, enquanto prática sócia espacial, no plano do vivido. A nova centralidade aprofunda o processo de segregação espacial pela diferenciação dos usos, e das transformações das funções dos lugares na divisão espacial do trabalho, na metrópole. O plano do lugar diz respeito ao modo como a metrópole se produz continuamente, enquanto lugar da reprodução social; significa, por exemplo, pensar no modo como as histórias particulares tanto dos homens quanto dos lugares, se realizam, hoje, subordinadas ao plano do mundial que se anuncia.

Significa dizer que o espaço ganha nova dimensão na análise, isto é em seu processo de desenvolvimento, o capitalismo, para continuar se reproduzindo, produz constantemente seu próprio espaço. A produção deste espaço aparece como condição e produto da reprodução do capital, que ultrapassa em seu processo de expansão, cada vez mais, os limites da fábrica para se realizar num espaço mais amplo, aquele da cidade.

Na articulação entre estes planos, a produção do lugar se realiza cada vez mais articulado a um outro plano revelando a produção de um espaço com novas características: a) aprofundamento da segregação - revela as condições da normatização dos espaços e da modelização da vida – uma “nova ordem” invade a metrópole e define o modo do usos dos espaços / novo modo de vida; revelando-se enquanto formas de segregação. Nesta dimensão o espaço e o tempo, submetidos à lógica capitalista, impõe o produtivismo que transforma o tempo em quantificação (uma quantidade abstrata), e o espaço (também ele tornado abstrato) numa distância a ser percorrida.

As relações de propriedade criam os limites do uso, com a tendência a destruição do espaço público como espaço acessível. Com isso limita, pelo exercício do poder, uma ação que destrói o espaço da sociabilidade e proximidade, substituindo-o por aquele dos interditos em nome da lei e da ordem. Ao mesmo tempo que se faz a apologia da técnica, enquadra-se o cidadão em papéis que lhe são impostos pela normatização da sociedade marcando os limites do consumo do espaço no movimento de generalização da transformação do espaço em mercadoria.

Assim, o processo de reprodução do espaço aponta a tendência da predominância da troca sobre os modos de uso, o que revela o movimento do espaço de consumo para o consumo do espaço - este processo se revela pelo esvaziamento da rua como lugar do encontro e do lazer, e a supervalorização dos shopping centers como os lugares das compras e do lazer. No caso da periferia submetida ao poder do trafico, a normatização não se faz pela lógica da realização da propriedade privada, mas pela necessidade de realização do capital.

Este movimento da passagem do espaço de consumo para o consumo do espaço se analisa no movimento da transformação do uso em troca – da mutação do espaço em mercadoria.

Este, impõe o fato de que o acesso aos lugares de lazer se realiza pela mediação do mercado, acentuando o papel de um lado da força da propriedade do solo, e de outro da necessidade constante da construção do espaço enquanto momento de acumulação. Tal fato implica profundas mudanças nos modos de uso. No plano local a conseqüência direta deste fato é o aprofundamento da separação entre espaço público / espaço privado. O processo acentua a segregação pela explosão das formas, pela expulsão da população residente, pelo esvaziamento da prática sócio espacial, pela separação/ especialização dos lugares da metrópole, (em áreas de lazer, de trabalho, de troca), o que gera o empobrecimento das relações sociais.

A segregação se encontra no seio do processo de reprodução do espaço no capitalismo, como processo objetivo, a reprodução da metrópole caminha de forma decisiva para sua objetivação, enquanto realização social - nesta dimensão a segregação vai revelar o fato de que, ao longo da história, o homem se submete a sua própria criação – o produto se exterioriza em relação a sociedade impondo-se como potência estranha.

Esse processo de alienação aparece sob a forma do estranhamento enquanto descompasso entre os tempos da vida e das formas urbanas, onde o cidadão se encontra diante da metrópole de formas fluidas e fugidias, vivendo o estreitamento das possibilidades de apropriação do espaço, com a deterioração, ou mesmo fim, dos espaços públicos enquanto restrição às possibilidades de apropriação. Esses aspectos vão revelando a instauração do cotidiano nos interstícios da prática sócio-espacial esvaziada. Portanto, de um lado, espaços vazios e nomatizados, de outro, vida controlada - ambos programados dentro de um rígido modelo que atende as necessidades atuais da reprodução da sociedade.



Referências bibliográficas.

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SANTOS, Milton - Metamorfose do Espaço Habitado: fundamentos teóricos e metodológicos da geografia - São Paulo - Ed. Hucitec - 1988.


As novas tecnologia de ensino na Educação Básica
Mª de Jesus Benjamin da Silva
Mário Benjamin Dias

As novas tecnologias vêm modificando significativamente a relação do homem com o mundo, elas tem facilitado o trabalho, a comunicação e outras atividades do cotidiano, já que hoje se torna mais difícil pensar numa sociedade sem tecnologia, pois em cada segmento social encontramos a presença de instrumentos tecnológicos. Pertencemos a um mundo cada vez mais globalizado e digital, embora saiba-se que nem todos tem acesso a essa tecnologia. A globalização abriu novos caminhos e possibilidades para que se busquem novos conhecimentos, isto e, em todas as áreas principalmente a do ensino escolar. Essas transformações se materializam em diferentes formas (econômico, econômico, político-social, cultural, ambiental) no espaço geográfico. Esse período de aceleração espaço-tempo, impôs ao mundo da educação momentos caracterizados pela sociedade do conhecimento, mediada pelo chamado meio técnico-científico-informacional, no qual as complexas relações impõem novas formas de pensar, refletir, agir e se relacionar no e com o mundo. As tecnologias desenvolvidas nesse período e a força com que se disseminam na sociedade abarcando praticamente todas as atividades de produção, armazenamento, distribuição, comunicação e consumo de informações produzem expectativas em relação às formas de análise, transmissão e apreensão dos saberes (novas formas de produzir e consumir conhecimento). E, considerando que essas mudanças nem sempre são acompanhadas e repassadas no ambiente escolar (isso porque nem todos os profissionais têm oportunidade ou disponibilidade de tempo para tal) impondo novos desafios à escola no limiar do século XXI, a atuação dos docentes que desenvolvem seus trabalhos na Educação Básica deve ser repensada, pois os novos paradigmas requerem metodologias de ensino variadas associadas a novas tecnologias. Desta forma a escola não pode ficar excluída desta realidade virtual, devendo se apropriar e incorporar os avanços destas tecnologias na prática educativa, de forma adequada e eficaz, promovendo uma “virtualização” do conhecimento. Esse repensar, está ligado a uma concepção de educação democrática onde os diversos atores (diretores, professores, alunos, pedagogos, coordenadores, Estado e etc.) envolvidos nesse processo se articulem com o objetivo de oferecer um ensino de qualidade que permita ao homem se construir como tal, satisfazendo suas necessidades individuais, a busca por fins coletivos e a integração a realidade de seu tempo. Um sentido libertador que contribuirá para que nas escolas se promova uma educação em favor de todos os homens. E nesse contexto, para problemazar ainda mais vale ressaltar que na era moderna grande parte dos profissionais da educação passaram por um processo progressivo de atualização através da chamada “reciclagem padrão”, que consistia em capacitar esse profissional, relacionando-o às inovações, aos novos programas e tecnologias de ensino. Trata-se de estar constantemente atualizando os sujeitos que fazem a educação sobre os novos descobrimentos da ciência, e como esse conhecimento (seja ele teórico ou prático) pode ser utilizado para a ação no seu universo de trabalho. No caso dos professores, mais precisamente na área de ensino. Porém, essa “formação” acaba tendo um caráter de “informação”, onde o conhecimento torna-se quase um objeto concreto que existe independente dos indivíduos em que repousa. Ou seja, não sofre interação e tão pouco transformação ao ser utilizado pelos sujeitos que o transmitem, e nem pelos sujeitos que o apreendem. Isso acaba negando a importância desse profissional, tanto para formar alunos críticos e em sintonia com as transformações que se materializam no espaço geográfico, quanto para uma formação cidadã, amplamente articulada com questões sociais. Em decorrência desses fatores, defendemos uma formação continuada não como sinônimo de “continuísmo”, que está ligado a incorporação e transmissão de informações e novas metodologias de ensino para a manutenção de uma determinada estrutura ideológica vigente; e sim uma formação mais crítica (social) que não considere o corpo de conhecimentos disponível como algo fechado, verdadeiro e imutável. Neste contexto, o projeto de educação continuada consiste em estudar e proporcionar formas de capacitação articulada a mudanças importantes, tais como: metodologias associadas às novas tecnologias de ensino, voltadas para esses profissionais da educação. Um ensino que vá além do uso da linguagem oral e escrita, dos recursos do giz, quadro e livro didático, e educar para o desenvolvimento tecnológico, mediante a utilização das novas tecnologias das imagens, como dos novos produtos de software. Ressaltando o que é importante, ou seja, que os professores conheçam os objetivos, as diretrizes e normas governamentais, o posicionamento de seus elaboradores, a fim de que possam tornar suas práticas mais eficazes, e, por conseguinte, compromissadas com a superação das desigualdades, das injustiças, dos preconceitos, ultrapassando obstáculos por meio de uma formação continuada, já que se deve levar em consideração que esse profissional tem poucas oportunidades de continuar sua formação em nível de pós-graduação, em face de uma diversidade de fatores. Assim, a educação continuada está associada a uma formação teórica-prática, onde são utilizadas metodologias facilitadoras que possibilitem uma releitura do mundo decorrente das transformações que ocorrem no período contemporâneo, e da velocidade com que as mesmas são veiculadas e processadas, colocando à escola novos desafios. O que requer a formação de um novo professor, capaz de criar e adaptar procedimentos, de enfrentar a complexidade de situações do mundo moderno que se refletem no ambiente educacional. Por isso devemos refletir sobre nosso mundo, compreendendo-o do âmbito local, nacional e por conseguinte o planetário. A Geografia é um instrumento indispensável para entendermos essa reflexão, que deve servir de base para a nossa atuação no mundo. Aprender Geografia na Educação Básica tem sido percebido por muitos, como uma forma tradicional e antiga de lidar com os novos contextos, ou seja, com aulas expositivas, utilização do quadro de giz e algumas vezes mapas que apesar de ser instrumento fundamental para os geógrafos acabam sendo relegados pelos professores e se comparado as novas tecnologias um material estático. Esses recursos podem até ser eficaz, porém, esta forma de ensino não estimula os alunos. Deste modo, o ensino de Geografia deve ser ministrado através de outros recursos, que irão facilitar à assimilação desta disciplina. Na Educação Básica tem-se constatado que através das aulas expositivas, por vezes com utilização de mapas e alguns outros recursos, os alunos sentem dificuldades de apreender os conteúdos, assim, as novas tecnologias podem facilitar este aprendizado É importante ressaltar que a geografia enquanto ramo do conhecimento científico tem sua gênese atrelada a uma visão clássica tradicional, pois, desde que se institucionalizou como ciência no século XIX seu método de análise esteve pautado em uma lógica positivista, como enfatiza (STRAFORINI 2004, pg 57): O objetivo da escola tradicional é a transmissão de conhecimentos, ou seja, uma preocupação conteudista. Dessa forma, o aluno é visto como um agente passivo, cabendo a ele decorar e memorizar o conjunto de conhecimentos significativos da cultura da humanidade previamente selecionados e transmitidos pelo professor em aulas expositivas. O mundo é uma externalidade ao aluno, ou seja, não é dado a ele a possibilidade de sua inserção no processo histórico. Assim, o conhecimento é concebido como uma informação que é apreendida unicamente pela memorização. Esse método de análise dedutivo-inditivo buscava com o auxílio do corpo de conhecimentos científicos disponíveis o entendimento da realidade através da fragmentação, estaticidade e descrição de aparências e formas. Não concebendo o mundo em seu caráter múltiplo, complexo e contraditório. Negando assim, seu constante movimento (sua perspectiva histórica). Nas escolas a geografia que era ensinada não poderia ser diferente, pois os conteúdos eram tratados de forma superficial (repasse apenas), fragmentada, e sem qualquer relação com a realidade e a interdisciplinaridade. Porém, em meados da década de 70 esse contexto começou a mudar com a inserção do materialismo histórico-dialético como método de análise da ciência geográfica. Isso porque a geografia tradicional não conseguia mais explicar o mundo, não dando conta da complexidade de elementos e processos da sociedade daquele momento. O método materialista histórico e dialético utiliza a formação econômico-social para a compreensão dos fenômenos que se manifestam no espaço geográfico. Onde aspectos da realidade passam a ser pensados enquanto totalidade, constante contradição, e sobre uma perspectiva de mudança perpétua que leva em consideração os fatores históricos nas análises, ou seja, ilustram o caráter dinâmico do espaço geográfico. Esses fatores também se manifestam no ensino, pois com a inserção da chamada geografia crítica nas escolas, há a defesa da transformação da realidade social pelo saber crítico, construído na análise da produção do espaço geográfico pelo homem através da apropriação da natureza (mediada pelo trabalho), e da sua relação com a sociedade. Vale ressaltar que esse processo de transição da geografia tradicional para a geografia crítica não é algo consolidado, pois atualmente profissionais ainda trabalham a vertente tradicional, e outros que se dizem “críticos”, também continuam a exercer uma geografia fragmentada e sem construção, Nesse sentido (STRAFORINI 2004, pg 49) destaca que: Na verdade, a geografia crítica foi apresentada para a grande maioria dos professores através de livros didáticos, pulando a mais importante etapa: sua construção intelectual. Da mesma forma que os conteúdos chegavam aos professores de maneira pronta e acabada na geografia escolar tradicional, os conteúdos sob a luz da geografia crítica também assumiam o mesmo papel junto aos professores, ou seja, de essencialmente dinâmicos, na prática continuavam estáticos. É justamente para contribuir na solução dessas questões e formar um novo educador que estamos desenvolvendo o projeto “A geografia na educação básica: uma proposta de educação continuada para professores do Estado do Pará”. Seus objetivos principais são: organizar reuniões cientifica voltadas para a discussão do ensino de Geografia na educação básica; formação de grupo de estudo permanente que discutam sobre teorias da aprendizagem, utilização diferenciada de metodologias de ensino, educação à distância, entre outras; incentivar a produção científica, assim como a organização de eventos científicos e de um acervo voltado para o ensino de geografia na educação básica. Essas ações envolvem discentes da graduação em Geografia, como forma de complementação de sua formação acadêmica. Dentre as metas do projeto destacam-se capacitar o maior numero possível de professores de geografia da Educação Básica a partir das categorias geográficas; desenvolver habilidades de transposição didática do conhecimento acadêmico geográfico (produção de texto); instrumentalizar professores de ensino de geografia a confeccionarem recursos didáticos a partir de experiências vividas; desenvolver competência para a leitura, compreensão e produção de mapas, cartas, imagens, globos, etc (alfabetização cartográfica); desenvolver competências e habilidades para a utilização de novas metodologias de ensino (musica, internet, cinema, jornais, revistas, jogos interativos, tv etc.); ressignificar os processos avaliativos, levando em consideração os aspectos qualitativos e quantitativos na relação ensino-aprendizagem. Esse trabalho vem sendo desenvolvido por meio de oficinas de produção de materiais didáticos sobre as categorias do pensamento geográfico; da alfabetização cartográfica; da utilização de livros didáticos; uso de Internet no ensino de geografia; da mídia e o ensino de geografia; da literatura, da fotografia; a paisagem geográfica e suas diferentes formas de representação. Como forma de socialização dos resultados, estão previstos seminários sobre práticas docentes em geografia (ciclo de palestras, trabalho de campo, entre outros.). A proposta parte de uma concepção de educação e formação continuada em que os professores são vistos enquanto atores fundamentais que atuam na formação dos futuros cidadãos brasileiros. Se a educação e os professores continuarem a serem vistos como meros agentes passivos do processo, não atingirão a meta prevista, que é de formar cidadãos críticos e reflexivos.

quarta-feira, 2 de maio de 2012


AS  CATEGORIAS DO PENSAMENTO GEOGRÁFICO NA EDUCAÇÃO BÁSICA

                              Profª  Drª Maria de Jesus Benjamin da Silva [1]
                                             Prof Dr Mário Benjamin Dias[2]

 A idéia a se ressaltar aqui é  a importância da geografia, enquanto disciplina escolar é de proporcionar ao aluno, o entendimento do mundo a partir da espacialidade dos fenômenos sociais, físicos políticos, étnicos, como se apresentam e porque estão organizados de uma forma e não de outra. Esses conhecimentos geográficos  precisam ser pensados para além do imediato da sala de aula. De acordo com Cavalcante (1998 pg 128 ) é preciso superar o ensino da geografia que transforma os conteúdos em objetivos de ensino. Ensinar o aluno a localizar pontos importantes no mundo, e ensina-los a representar cartograficamente.
            O espaço geográfico, por sua vez compreendido, como produto sempre em transformação, das diversas relações que a sociedade mantém, entre si e com a natureza. É um espaço heterogêneo, desigual, cuja produção dificilmente será compreendida, na sua essência pelo aluno sem ajuda formal de o professor(a) trabalhar as categorias do pensamento geográfico.
            A Geografia enquanto ciência social possui em seu arcabouço um conjunto de categorias que expressam sua identidade, ao discutir a ação humana no ato de modelar a superfície terrestre[3]
          O espaço, a região, o território, o lugar e a paisagem constituem-se no resultado particularizado da atuação humana na transformação do planeta. Diferentes conceitos, diversas formas de caracterizar este ato de mutação, são produtos originários de cada visão particular de mundo, de cada universo expresso na peculiaridade de cada homem como ser único, de culturas geradas em civilizações singulares.     Esta  compreensão esta embasada na concepção de cada professor de geografia, cuja a função educativa ultrapassa a simples transmissão de conhecimento.
            As “verdades” embutidas em conceitos antagônicos, no interior de cada categoria geográfica são freqüentemente, expostas como enunciados insofismáveis. Entretanto, são produtos da decorrência da vida, do contacto dos homens com outros homens em espaços e tempos desiguais, incrustados em numerosos e distintos universos culturais. Portanto, os conceitos diferenciados sobre as categorias geográficas são  resultados desta individualidade.
            Para analisar a importância dessas categorias na disciplina geografia é preciso conhecer o   embate entre as distintas maneiras de encarar o ato de modelar a superfície terrestre é típico da Geografia, desde a constituição e o enunciado de seus pressupostos metodológicos em fins do século XIX. Neste período, encontramos no interior da Geografia clássica, a disputa entre possibilitas e deterministas. Durante o transcorrer do século XX, a Geografia Quantitativa neopositivista opõe-se à Geografia Regional de Hartshorne e à própria Geografia clássica. Nos anos 1970, a Geografia Crítica em uma vertente materialista histórica se contrapõe à Geografia Teorética. Atualmente, o culturalismo coloca-se como contraponto às tendências marxistas. O debate, portanto é extremamente proveitoso, pois confronta idéias, padrões e resultados da relatividade das ciências como um todo
         Cumpre salientar, após estes pressupostos fundamentais, a importância do espaço nas diversas escolas e posicionamentos geográficos. A Geografia clássica, institucionalizada como resultado de sua sistematização ocorrida no final do século XIX, não considerava o espaço como categoria chave. 
       A exceção deve se reportar às obras de Ratzel que abordavam a questão do espaço vital. O espaço ratzeliano era o espaço do poder estatal, consolidado por intermédio da expansão territorial. O território para Ratzel seria a concretização formal do espaço, consolidada pela ocupação de uma determinada área por um grupo humano exclusivo. Ainda dentro da Geografia clássica, Hartshorne o grande teórico do regionalismo geográfico, trabalhou o espaço de maneira implícita, apresentando uma área como sua correspondência. É o espaço absoluto de Kant, existindo somente quando os fenômenos encontrados em seu interior relacionam-se de forma única, não se concebendo generalizações [4]
A revolução teórico-quantitativa, ocorrida na Geografia a partir da década de 1950, possibilitou o desaparecimento da categoria  paisagem como elemento de interpretação da realidade geográfica, bem como estabeleceu novos parâmetros epistemológicos, calçados nas ciências da natureza, principalmente na Física e na Matemática. O espaço surge como conceito estrutural. Além da paisagem, o território desaparece das interpretações quantitativas. O espaço passa a ser considerado sob a forma de “planície isotrópica”, constituindo-se em um modelo.
Conseqüentemente, a Geografia Quantitativa orientando-se pelo pensamento burguês, produz a legitimidade de uma espacialidade organizada pelo capital.[5]
     Estabelecendo-se como contraponto da Geografia Teorética, tanto quanto da Geografia Classica, ambas alicerçadas no Positivismo, a Geografia Crítica marxista surge entre os anos 1960 e a década de 1970, estabelecendo novos paradigmas. A questão da ausência da análise espacial e o significado do espaço motivaram debates entre geógrafos por todo este período. Segundo Côrrea op. cit., para Harvey (1975) a espacialidade foi negligenciada pela teoria marxiana, enquanto que para Soja (1993) o espaço foi trabalhado como receptáculo, conceituação muito próxima dos modelos praticados pelas ciências burguesas. A efetivação do espaço como categoria espacial surge nos trabalhos de Henri Lefevbre apud Côrrea op.cit., estabelecendo-o com o espaço social, em estreita correlação com a sociedade. O espaço para este autor é concebido como o locus da reprodução da sociedade.
    A concepção de Lefevbre sobre o espaço amparou os trabalhos de Milton Santos, cuja preocupação maior estabeleceu-se na formação do conceito de espaço social e de seus desdobramentos para a realidade geográfica.
    A Geografia humanista surge também nos anos 1970, acentuando sua produção nas décadas de 1980 e 1990. Dentro desta perspectiva, o subjetivismo, a intuição, os sentimentos, a experiência, o singular tornam-se a base das análises geográficas. Em conseqüência, a percepção torna-se o instrumento modelar da Geografia Cultural. A paisagem e o território ressurgem como categorias imprescindíveis, fruto da vivência do homem em um determinado lugar. O lugar torna-se o conceito-chave, enquanto o espaço adquire o significado de espaço vivido[6].
Ao analisar a importância do espaço para as diversas tendências da Geografia, verifica-se a necessidade de se evidenciar o território, categoria de relevo na atualidade desta ciência. Em conjunto com a paisagem, após décadas de ostracismo, ressurge como componente central nas discussões geográficas. O território é considerado atualmente como um espaço definido por um conjunto de relações de poder. Conseqüentemente, o território será considerado um espaço controlado por grupos humanos, produzindo territorialidades específicas, das quais o poder se origina. Este processo é observado por intermédio de múltiplas escalas: mundiais, regionais e locais, cuja espacialidade e temporalidade se expressam de maneira contínua ou descontínua
As conceituações contemporâneas sobre território colocam o espaço com a capacidade de suportar diversas territorialidades simultaneamente, associadas com temporalidades idênticas ou diferenciadas. Assim, em uma mesma cidade, em um bairro específico ou até mesmo em uma rua, vários territórios podem conviver. Os horizontes sobre o território ampliaram-se sobremaneira, nas últimas décadas. A Geografia Cultural possibilitou a transposição da hegemonia da Geografia Política, no tocante às questões sobre a territorialidade. Para a Geografia Política Clássica, o estado era a única categoria a ser considerada em sua análise. Hoje, a multiplicidade, a sobreposição territorial e a ausência definida de fronteiras, ampliam as questões do controle do poder na realidade geográfica, em todas as escalas.
O espaço não está atualmente em evidência como nas décadas passadas, quando era colocado como categoria preponderante nas monografias geográficas. Esta preeminência surgiu a partir da década de 1960, quando um grande movimento de renovação passou a ser construído. A Geografia Clássica que identificava a região e a paisagem como principais categorias, passou a ser questionada, pois não apresentava elementos necessários para a análise de uma sociedade repleta de contradições econômicas e sociais.  O paradigma materialista tornou-se hegemônico. Surge a Geografia Crítica apresentando a discussão do espaço como seu elemento norteador.
Em fins dos anos 1980, novos padrões são estabelecidos. Com a Geografia humanista, o território, a paisagem e o lugar tornam-se novamente categorias relevantes. Entretanto, é imperativo que se esclareça a importância da espacialidade para a Geografia. Como uma das principais categorias geográficas, deve ser considerada de importância fundamental.  Santos (1994 pg 28) define-a como essencial, pois concentra a materialidade onde a natureza se transforma, em seu todo de forma produtiva[7]
O lugar, identificado como outra categoria básica individualiza as metamorfoses da natureza, construindo diferenças espaciais, portadoras em sua essência, das diferenças geográficas. Há uma multiplicidade indefinida de espaços, tendências e concepções oriundas de escolas geográficas distintas, produzida por visões de mundo diferenciadas. Segundo o autor, esta variedade de conceitos pode apresentar instrumentos adequados de análise do real, se definir princípios com coerência interna, harmoniosos e que possuam dialogar entre si. O processo analítico necessita de coesão interna expressa por intermédio de paradigmas teóricos préestabelecidos. Como conseqüência, Santos (1994 pg 29) define epistemologicamente o espaço desta forma:
..”O espaço não é nem uma coisa, nem um sistema de coisas, senão uma realidade relacional: coisas e relações juntas. Eis por que sua definição não pode ser encontrada senão em relação a outras realidades: a natureza e a sociedade, mediatizadas pelo trabalho...[8]
Milton Santos coloca através desta conceituação, a importância da natureza e da sociedade na constituição espacial. O antigo paradigma geográfico ressurge. O espaço seria o movimento das relações entre a concretude física do planeta e a humanidade. A mediatização realizada pelo trabalho produz a construção do espaço que se vislumbraria como um conjunto indissociável de objetos geográficos, naturais e sociais, com a sociedade em movimento. O espaço seria um conjunto de formas, contendo frações da própria sociedade que se movimenta[9]
Dessa forma no decorrer do processo histórico vários filósofos trabalharam a conceito de espaço, Lefebvre, Kant, Castell, Santos, Newton, Soja entre outros. Soja   (1993)[10] exprime sua preocupação com o predomínio do espaço fixo, imutável, herança da filosofia Kantiana, na Geografia:
Kant, filósofo alemão é considerado o grande delimitador de épocas para o conhecimento humano. Produziu seu trabalho intelectual no período de consolidação do sistema capitalista. Nascido no início do século XVIII foi testemunha dos grandes acontecimentos históricos de sua época. Sua obra marca a construção de uma filosofia que refletiu a ascensão burguesa ao poder econômico e político. Para Douglas Santos (2002 pg 72 ) Kant significou a síntese maior da vertente hegemônica do pensamento burguês. Segundo o autor, Kant aproxima-se dos conceitos de espaço e tempo newtonianos. Para Newton o espaço é visto como receptáculo, condição a priori da ordenação das coisas
Kant apud Santos esclarece sua definição de espaço:
...”O espaço não é conceito empírico, extraído de experiências externas.Efetivamente, para que determinadas sensações sejam relacionadas comm algo exterior a mim (isto é, com algo situado num outro lugar do espaço, diferente daquele em que me encontro) e igualmente para que as possa representar como exteriores [e a par] umas das outras, por conseguinte não só distintas, mas em distintos lugares, requere-se já o fundamento da noção de espaço. Logo a representação de espaço não pode ser extraída pela experiência das relações dos fenômenos externos; pelo contrário. Esta experiência externa só é possível, antes de mais nada , mediante essa representação”... [11]
”... O espaço é uma representação necessária a priori, que fundamenta todas as instituições externas. Não se pode nunca ter uma representação de que não haja espaço, embora se possa perfeitamente pensar que não haja objetos alguns no espaço. Consideramos, por conseguinte, o espaço a condição de possibilidade dos fenômenos, não uma determinação que dependa deles; é uma representação a priori, que fundamenta necessariamente todos os fenômenos externos”... [12]
Portanto, o universo em que vivemos é um grande cenário, a Geografia seria a ciência que o descreve.[13]  O espaço absoluto é o espaço receptáculo, é o espaço como a representação que não se transforma, é imutável, tornando-se elemento preponderante para a Geografia tradicional, hegemônica durante quase a maior parte do século XX. Ao contrário, a relatividade espacial é condicionada pela metamorfose. O espaço altera-se pela ação humana. A ascensão do marxismo como modelo metodológico, para a análise geográfica, possibilitou o aproveitamento definitivo do conceito de espaço relativo.
A relatividade espacial é retratada por Castells apud Soja op. cit., que a coloca como resultado da ação humana:
...”O espaço não é um ‘reflexo da sociedade’, ele é a sociedade. (...) Portanto, as formas espaciais, pelo menos em nosso planeta, hão de ser produzidas, como o são todos os objetos, pela ação humana[14]
Aproximando-se da visão de Castells, Lefebvre apud Soja, op. cit., apresenta o espaço como produto da atuação humana sobre a natureza, criticando sua pretensa neutralidade e sua não interferência na sociedade, caracterizando uma possível entidade autônoma:
 ...”O espaço não é um objeto cientifico afastado da ideologia e da política; sempre foi político e estratégico. Se o espaço tem uma aparência de neutralidade e indiferença em relação a seus conteúdos e, desse, modo parece ser ‘puramente’ formal, a epítome da abstração racional, é precisamente por ter sido ocupado e usado, e por ter já ter sido o foco de processos passados cujos vestígios nem sempre são evidente na paisagem.O espaço foi formado e moldado a partir de elementos históricos e naturais, mas esse foi um processo político. O espaço é político e ideológico. É um produto literalmente repleto de ideologias”..[15].

Uma dificuldade latente encontrada em quase todos os pensadores ligados a sua postura metodológica baseada no materialismo histórico. O historicismo individualizou-se como elemento primordial na condução das teorias sociais críticas. O espaço geográfico foi deslocado à margem do materialismo dialético, sendo que a organização espacial representou somente um palco, um espelho da dinâmica social.[16]  Henri Lefebvre constituiu-se em um membro diferenciado no interior da intelectualidade marxista, trabalhando a inclusão do espaço geográfico como produtor da sociedade, em uma dialética que exprime um diálogo constante entre a sociedade e o próprio espaço, produto e paralelamente produtor dos relacionamentos sociais. O homem constrói o espaço geográfico e ao mesmo tempo é reflexo deste mesmo espaço, assinalando na paisagem vestígios de um passado modelado por este relacionamento dialético, aproximando a temporalidade e a espacialidade. Castells, na esteira de Lefebvre, coloca a necessidade de se estabelecer leis que possibilitem a explicação sobre o surgimento e o funcionamento do espaço criado, o espaço geográfico
O estabelecimento de estruturas metodológicas que coordenem e expliquem a construção do espaço geográfico, foi uma das preocupações centrais nas obras de Milton Santos. Em uma de seus trabalhos finais, “A natureza da Geografia. Técnica e tempo. Razão e emoção” evidencia-se, com clareza sua ansiedade com a magnitude desta tarefa, envolta na concepção de uma nova teoria que elucide a formação do espaço e identifique e discuta questões epistemológicas da Geografia:
...”Este livro resulta, sobretudo de uma antiga insatisfação do autor diante de certo número de questões. A primeira tem que ver com o próprio objeto de trabalho do geógrafo. A essa indagação, com freqüência a resposta é buscada numa interminável discussão a respeito do que é a Geografia...Desse modo, a discussão é sobre o espaço e não sobre a Geografia; e isto supõe a domínio do método... Um outro tema de nossa insatisfação é a famosa união espaço-tempo, mediante a consideração da inseparabilidade das duas categorias”..[17]
Prioritariamente, Santos (2002 pg 16) expõe sua concepção de espaço:
…”Como ponto de partida, propomos que o espaço seja definido como um conjunto indissociável de sistemas de objetos e de sistemas de ações. Através desta ambição de sistematizar, imaginamos poder construir um quadro analítico unitário que permita ultrapassar ambigüidades e tautologias”.. [18]

Conseqüentemente, a partir deste alicerce metodológico, o autor pode reconhecer e reconfigurar as demais categorias da Geografia: território, paisagem, região e lugar. No caso específico deste artigo, consideramos prioritariamente as  categorias de análise: espaço, lugar. território e paisagem. Milton Santos definiu um  paradigma sobre o espaço geográfico. E diz o seguinte : A relação entre o homem e a natureza é mediatizada pela técnica. Consideraremos a técnica como um conjunto de meios instrumentais e sociais, com os quais o homem realiza sua vida, produz e ao mesmo tempo, cria espaço.[19].  Todos os acontecimentos humanos devem ser analisados sob a ótica da evolução das técnicas. Ampliando a definição, pode-se optar pelo estabelecimento de um amplo sentido para o termo:  Maximilien Sorre  apud Santos coloca o fenômeno técnico presente em todas as atividades humanas, não somente nas industriais. Santos diz que a medida que a técnica se universaliza  possibilita a evolução do homem em adaptação ao mundo, produzindo espaços geográficos. Observa-se assim, que os  objetos técnicos estão presentes em todas as sociedades humanas. A paisagem é fruto da evolução dos objetos técnicos. O espaço pode ser considerado um híbrido entre o meio natural e a técnica. A integração da natureza e dos objetos técnicos produz o espaço geográfico. Reafirmando a importância do meio técnico, Milton Santos evidência sua importância espacial e temporal:
...”A técnica nos ajuda a historicizar, isto é, a considerar o espaço como fenômeno histórico a geografizar, isto é, a produzir uma Geografia com a ciência histórica. Assim pode-se também produzir uma epistemologia geográfica de cunho historicista e genético, e não apenas historista e analítico”...[20]
A unificação do tempo e do espaço é outra discussão alicerçada por Santos. Considera a possibilidade da concretização desta correlação, por intermédio da empirização do tempo, já que o espaço tem componentes materiais que podem ser empirizados. A preocupação do autor é totalizar a questão do tempo, do espaço e do mundo material. A sociedade humana cria objetos técnicos que possuem materialidade, pois são concretos, palpáveis. Paralelamente, estes objetos técnicos contraíram um tempo específico, pois pertencem a um determinado momento histórico. Empiricamente, a paisagem pode ser considerada elemento espacial e temporal, pois foi estabelecida através de uma determinada técnica, predominante em um determinado período da evolução humana. A técnica é datada, portanto sua temporalidade adquire percepção através dos sentidos humanos.
A diferenciação de lugares, uma das expressões fundamentais da Geografia baseia-se em espaços diversificados e tempos diferenciados. Os objetos técnicos não são assimilados igualitariamente por todo o planeta. Os lugares, considerados espaços locais possuem características próprias: cultura e meio natural diferenciados. Desta forma, influenciam a criação de novos espaços geográficos, em momentos históricos díspares. Uma determinada técnica pode ser assimilada rapidamente por todo o planeta, ou somente por algumas regiões ou por alguns locais específicos. Nestes lugares convivem objetos técnicos relacionados a outros períodos históricos. Constituem reflexos da empirização do tempo e da criação de espaços geográficos específicos
O espaço geográfico é visualizado como o resultado do desempenho do homem sobre a natureza, configurado como um sistema de ações, criando objetos técnicos que alteram a própria natureza e a sociedade humana. Santos, trabalha não somente a concepção de espaço e das demais categorias de análise geográfica, mas também estabelece discussões, aponta critérios sobre os fundamentos da Geografia, produzindo alternativas  para as grandes dificuldades epistemológicas desta ciência. Em um universo de conhecimentos repleto de diferentes interpretações sobre o espaço, a temporalidade, enfim todas as construções geográficas, podem trazer uma ordenação estrutural, um referencial metodológico, com novos paradigmas.
A conceituação de espaço empregado nesse artigo caminha vinculada às interpretações epistemológicas, que vêem a espacialidade como construção humana. Conseqüentemente, o espaço relativo constituiu-se em um elemento condicionante para a construção desta realidade.
O espaço não é visto como palco, como representação ou o espaço absoluto O objeto técnico é o instrumento material e temporal da paisagem, constituindo-se ela no ponto de confluência da relação sociedade e espaço, possibilitando a concepção do espaço social.
Conceituando o  território esse é  muitas vezes confundido com o de espaço. Este problema constituiu- se devido aos tênues limites fronteiriços entre as categorias geográficas. Portanto, a necessidade de se discutir a conceituação de território como categoria geográfica, se expressa por um imperativo epistemológico. Ao trabalhar-se com a categoria território, reporta-se automaticamente ao tempo. A temporalidade está expressa no território, tornando- se e uma referência necessária.[21]
A preocupação da Geografia com o território é antiga. Em conjunto com as categorias  espaço, região, paisagem e lugar, o território estabelece-se como um de seus pilares. Na última década, ocupou o lugar do espaço como categoria central, tornando-se prioritário nos trabalhos epistemológicos. Esta tendência é visualizada desde o final dos anos 1980, quando se iniciou uma reformulação das tendências da ciência geográfica. A partir desta fase, o território passou a ser considerado como uma de suas categorias chave.
O primeiro grande teórico da Geografia a trabalhar com a categoria território evidenciou-se na figura de Friedrich Ratzel, um dos sistematizadores do conhecimento geográfico. Sua obra foi construída no final do século XIX na Alemanha, tornando-se um dos processadores da Geografia tradicional, alicerçada no Positivismo de Augusto Comte
Moraes (1992) coloca a definição de Ratzel de espaço e de território:
.”.. Os diferentes fatores que impulsionam o progresso de um povo, colocando-o na senda da civilização, possuem um pano de fundo comum: o ‘teatro’ onde se desenrola tal processo - a superfície da Terra. A relação do homem com o meio seria uma constante nos acontecimentos que interessam à história do homem, esse ‘ser terrestre’. Daí a visão de Ratzel da ‘unidade telúrica, entre a história da humanidade e a do planeta. A Terra é posta como substrato indispensável da vida humana, sua condição universal de existência. O espaço, segundo ele, encerra as condições de trabalho da sociedade, que aumenta progressivamente com o seu desenvolvimento”..[22].
”... O território seria, em sua definição, uma determinada porção da superfície terrestre apropriada por um grupo humano. Observa-se que a propriedade qualifica o território, numa concepção que remonta as origens do termo na Zoologia e na Botânica (onde ele é concebido como área de dominância de uma espécie animal ou vegetal). Dessa forma, o território é posto como um espaço que alguém possuí, é a posse que lhe dá identidade”.[23]
            Quando Ratzel define sua concepção de território, concomitantemente especifica o surgimento da Geografia política. A questão do surgimento do Estado é observada como conseqüência da preocupação do homem, com a proteção de seu espaço de poder.
Por outro lado, Raffestin (1993) produz uma crítica a Geografia Política, definindo-a como uma Geografia estatal, desenvolvida por Ratzel, que considerava o Estado como única organização dotada de poder político, capaz de se estabelecer no espaço, construindo uma determinada territorialidade
Baseado na teoria de Rafestin,  Haesbaert  agrupou as concepções de território em três vertentes: a política - relações de poder de forma geral, a cultural – priorizando a dimensão simbólica e subjetiva do fenômeno,  a econômica, enfatizando a relação capital – trabalho, e finalmente a interpretação naturalista, que compreende o território como resultante da transposição da ordem animal para a organização espacial humana.
Segundo o próprio Haesbaert, estas concepções sobre o território podem ser englobadas em uma nova sistematização, que se coordena através de conceituações filosóficas.
Conseqüentemente, passa-se a apresentar dois módulos interpretativos, o binômio realismo-idealismo e o binômio espaço-tempo. A opção dependerá da posição filosófica do pesquisador. Entretanto, a atualidade proporciona novas tendências na tentativa de superação das dicotomias entre o materialismo e o idealismo.
O autor coloca-se entre aqueles que utilizam não somente a dimensão social, mas também a representação e o imaginário, relacionando-os com o objetivo da superação da divisão do trabalho científico. Contribuindo novamente com a discussão sobre a conceituação categorias geográficas  Santos op. cit., (2002) coloca o evento como um veículo de uma determinada possibilidade. O mundo é um conjunto expressivo de inúmeras possibilidades, que podem ou não serem concretizadas. A atuação do homem pode ou não materializá-las dentro de um espaço material específico. O lugar é o depositário final dos eventos. Estes também podem ser identificados como trajetos que as possibilidades produzem até se instalarem em uma determinada organização espacial. A paisagem surge como forma de expressão dos eventos nos lugares. Esses  eventos possuem características próprias.
   ...”Os eventos também são idéias e não apenas fatos. Uma inovação é um caso especial de evento, caracterizada pelo aporte a um dado ponto, no tempo e no espaço, de um dado que nele renova um modo de fazer, de organizar ou de entender a realidade[24]
 Haesbaert (2005 pg 23) conceitua o território desde sua origem, trabalhando as concepções etimológicas, próprias do cerne de seu significado:
...”o território nasce com uma dupla conotação, material e simbólica, pois etimologicamente aparece tão próximo de terra-territorium quanto de térreoterritor (terror, aterrorizar), ou seja, tem a ver com dominação (jurídicopolítica)nda terra e com a inspiração do terror, do medo – especialmente
para aqueles que, com esta dominação, ficam alijados da terra, ou no ‘territorium’ são impedidos de entrar. Ao mesmo tempo, por extensão, podemos dizer que, para aqueles que têm o privilégio de usufruí-lo, o território inspira a identificação (positiva) a efetiva ‘apropriação’”...[25]

Território para Haesbaert teria dois significados. O primeiro estaria relacionado à questão própria do poder político e, a outra, ligar-se-ia ao sentido de dominação, conseqüentemente de apropriação.
Em conjunto com as categorias espaço e território, a paisagem também apresenta diversas conceituações. Em seu âmago, a paisagem é discutida com o objetivo de se estabelecer o tipo e os níveis de relacionamento entre as relações sociais e a natureza em um determinado espaço. Estas concepções contrapostas originaram-se principalmente da existência de “escolas nacionais” que divergem quanto ao entendimento de seu funcionamento como categoria geográfica, de suas características e de seus fundamentos epistemológicos. A Geografia alemã compreendeu a paisagem como um conjunto de fatores naturais e humanos.
Os autores franceses relacionaram o homem com seu espaço físico. A Geografia quantitativa substituiu o termo  landscape  por região, definindo-a como um conjunto de variáveis abstratas deduzidas da paisagem e da ação humana. Paralelamente, uma visão ecológica, surgida na Alemanha e nos Estados Unidos, identificou as unidades de paisagem como conjunta de processos ecológicos. A maioria dessas abordagens refletiu posicionamentos filosóficos de um determinado período histórico. O Positivismo analisou-a a como elemento estático, o Marxismo fixou-a como um elemento da ação entre o capital e o trabalho. Atualmente, a paisagem possui uma abordagem holística, com o predomínio da visão culturalista.[26].
Santos op. cit., aborda a questão da paisagem em relação a categoria espaço e território, diferenciando-as dentro de parâmetros específicos:
.”Paisagem e espaço não são sinônimos. A paisagem é o conjunto de formas que, num dado momento, exprimem as heranças que representam as sucessivas relações localizadas entre homem e natureza. O espaço são essas formas mais a vida que as anima”..[27]
    A palavra paisagem é frequentemente utilizada em vez da expressão configuração territorial. Está é o conjunto de elementos naturais e artificiais que fisicamente caracterizam uma área. A rigor, a paisagem é apenas a  porção da configuração territorial que é possível abarcar com a visão. Assim, quando se fala em paisagem, há, também, referência a configuração territorial e, em muitos casos, o uso das duas expressões é indiferente”. [28]
 Em uma definição anterior, Santos (1994 pg 103) conceitua paisagem também como o domínio do visível:
..Tudo aquilo que nós vemos, o que nossa visão alcança é a paisagem. Esta pode ser definida como o domínio do visível, aquilo que a vista abarca. Não é formada apenas de volumes, mas também de cores, movimentos, odores, sons”...[29]
Compreender a organização espacial é visualizar uma série de fatores que se interpõe mutuamente. A paisagem é o fruto das transformações irregulares que o homem produziu ao longo do tempo. Compreender a organização e a produção espacial é visualizar uma série de fatores que se interpõe mutuamente.
 A paisagem é produto das transformações irregulares que o homem produziu ao longo do tempo.  Envolve uma conjunto de formas heterogêneas, de idades diferentes, pedaços de tempos históricos representativos das diversas maneiras de realizar as coisas, de construir o espaço. A paisagem é cultura, é o universo das condições políticas e econômicas, resultado da implantação espacial das técnicas.
 O espaço detém uma dimensionalidade palpável. O território é a expressão do controle do espaço geográfico, por intermédio de uma rede de relações de poder. A paisagem interioriza uma infinita categoria de  realizações humanas, dispostas em tempos diferentes, neste mesmo espaço. Em conjunto, estas categorias geográficas organizam metodologicamente a análise da produção e do arranjo espacial
Após a análise de todo esse referencial teórico a respeito das categorias geografias  a questão posta é como trabalhar as categorias  geográficas em sala de aula, partindo do principio que  o termo “sala de aula” e “ensino da geografia” aparecem fortemente ligado a  Educação Básica pouco ou nenhuma alusão a essas questões são feitas quando as aulas são ministradas no ensino fundamental menor. Dessa forma é preciso que seja feita reflexões a respeito das propostas de ensino de Geografia para o ensino fundamental e médio,  como se dá o ensino de um determinado tema nas aulas de Geografia,  como certo recurso tem sido utilizado. É preciso, discutir a Geografia enquanto disciplina escolar, tratando-a como um todo e  não de forma fragmentada.
É importante também pautar nessa discussão a Geografia que se ensina e que, pelo menos em tese, rompeu com a Geografia Classica. A Geografia gestada a partir do movimento epistemológico, teórico-metodológico e político de ruptura realizado na Geografia brasileira nos anos 70 e 80.
 Será que o rompimento que se deu com a Geografia Classica chegou de fato às escolas de ensino fundamental e médio? Será que a Geografia Crítica consolidou possibilidades metodológicas de ensino capazes de propor a construção coletiva do conhecimento? Essas são perguntas de respostas difíceis. Mas a constatação dos problemas já é um bom começo.
“A Geografia é uma dessas coisas chatas que inventaram para ser a palmatória intelectual das crianças”. Este fragmento do texto “Das coisas sem serventia uma delas é a geografia” de Sousa Neto (1996, p.5), talvez indique o caminho da primeira constatação a ser efetuada. Que Geografia está sendo ensinada? E de que forma está se dando? A primeira pergunta remete-se à epistemologia da Geografia e a segunda à metodologia, par inseparável.
A Geografia era uma espécie de remédio ruim, considerava as crianças como folhas em branco, recipientes vazios, objetos nos quais se deviam gravar as coisas que eram verdades. Assim as crianças só podiam memorizar o que viam, mas não aprendiam a pensar o espaço geográfico imediatamente vivido e relacioná-los à outros espaços geográficos. Essa prática educativa se apresentava dissociada da realidade, negando o aluno, fazendo com que ele não se visse não se reconhecesse. A escola e a Geografia ensinam, assim, um espaço que não é o do aluno. Prática essa presente e reforçada por alguns s livros didáticos (com suas orientações cosmopolitas)
Por muito tempo esse tipo de Geografia impediu ou deseducou as pessoas para a prática da cidadania. O homem era visto/entendido como mais um elemento da paisagem para ser descrito. A forma ganha mais importância do que o homem, a forma mais importante que o processo; a aparência constituída que se descreve sem importar sua essência. Como afirma Moreira (1987,p.23) “a opacidade sensorial implica, então, grave consequência gnoseológica: discurso do imediato, a Geografia é uma ciência sem trânsito entre a paisagem (aparência) e o seu próprio âmago (essência).
Então, se a  intenção for, enquanto professores de Geografia, a de ajudar a formar cidadãos, é preciso que os  alunos(as) aprendam a pensar seus espaços geográficos desde cedo. Para isso é fundamental entrar em contato com as experiências sociais tecidas no seu fazer cotidiano. Tentando considerar como é que meninos e meninas vêem as coisas onde suas vidas são vividas, como se relacionam com os grupos sociais nos locais por onde circulam, quais são as representações sociais que tem desses lugares. Enfim, considerar a realidade em que os alunos(as) estão inseridas, levando em conta as informações que já possuem e as experiências vivenciadas.
Contextualizar o ensino de Geografia é perceber o mundo, considerar o saber que retrata a realidade e entender a educação como forma de intervenção no mundo, comprometida com a condição de educador e com a realidade social dos alunos.
E assim, muito mais do que respostas que não levam a lugar nenhum, é aconselhável um diálogo acerca das categorias geográficas. Esta, nos parece, é a melhor maneira: partir do universo conceitual das crianças, do senso comum (que é o nível de compreensão inicial das crianças) para construir, junto com elas, os conceitos científicos. O conhecimento disciplinar deve ser dinâmico para poder gerar novos conhecimentos. Para reforçar a importância da construção conceitual estabelecemos um diálogo com Callai (1999. Pg 99) que nos ensina que:
 “ao construir conceitos, o aluno realmente aprende, por exemplo, a entender um mapa, a compreender o relevo, o que é região, nação, município. Ao conhecer, analisar e buscar explicações para compreender a realidade que está sendo vivenciada no seu cotidiano, ao extrapolar para outras informações e ao exercitar a crítica sobre essa realidade, ele poderá abstrair essa realidade concreta, ir teorizando sobre ela e ir construindo o seu conhecimento. Ao construir conceitos, o aluno aprende e não fica apenas na memorização”.
 A construção de conceitos é, assim, uma habilidade fundamental para a vida cotidiana, uma vez que possibilita às pessoas organizar a realidade, estabelecer classes de objeto, trocar experiências com o outro, construir conhecimento.
Callai (1999), destaca que as representações sociais dos alunos são importante recurso na formação dos conceitos, porque expressam o conhecimento cotidiano do aluno, ou seja, o que ele conhece e que já é compartilhado socialmente, ajudam na superação do relativismo e do subjetivismo no ensino.
Entendemos ser o ponto de partida a prática social de alunos e professores enquanto indivíduos histórica e socialmente situados, onde, a partir de atividades desafiadoras de amplo questionamento sobre o conteúdo em foco para compreensão do fenômeno, podemos construir o conhecimento numa perspectiva coletiva, crítica e que tenha incluído os agentes como autores de produção do saber. A partir daí, obter informações e estabelecer relações necessárias ao entendimento dessa realidade numa dimensão de totalidade (conceito fundamental para apreensão do espaço geográfico), e elaborada uma nova forma de entendimento das práticas sociais, da reelaboração, da recontextualização lógica que funda o conhecimento escolar.
Retornando a discussão que inicia este texto, sobre as categorias geográficas  não são formas nas quais se depositam conteúdos,  são conhecimentos que instrumentalizam os professores, e é nesta perspectiva que visualizamos a proposição.
Concluí-se a argumentação acerca da metodologia do ensino de Geografia afirmando uma das prerrogativas do ensino da ciência geográfica a partir das palavras de Freire (1998, p.29) “o ato de estudar implica sempre o de ler, mesmo que neste não se esgote. De ler o mundo, de ler a palavra e assim ler a leitura do mundo anteriormente feita”.
REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS
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[1] Profª Drª em Ciências Humanas área de concentração Geografia Urbana pela faculdade de Filosofia Letras e  Ciências Humanas pela  Universidade de São Paulo, professora da Faculdade Ipiranga Belém/Pará .e-mail mbenjamindasilva@hotmail.com .
[2] Profº Dr em Ciências Humanas área de concentração Geografia Urbana pela Faculdade de Filosofia Letras e  Ciências Humanas pela  Universidade de São Paulo. Professor Dr. Escola de Aplicação da Universidade Federal do Pará. E-mail mbenjamindias@hotmail.com.
[3] CÔRREA, Roberto Lobato. Espaço, um conceito-chave da Geografia. in:CASTRO, Iná Elias de. Geografia,
conceitos e temas. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, p.15 – 47 1995
[4] HARTSHORNE, R. apud CÔRREA, Roberto Lobato op.cit., p. 19
[5] -CÔRREA, Roberto Lobato op.cit., p. 21 - 23.
[6] CÔRREA, Roberto Lobato op.cit., p. 30.
[7] -SANTOS, Milton. Metamorfoses do espaço habitado. Fundamentos teóricos e metodológicos da Geografia. São Paulo: Hucitec, 1994, p. 28.
[8] Ibid., p. 26.
[9] - Ibid., p. 27
[10] SOJA, Edward W. Geografias pós-modernas. A reafirmação do espaço na teoria social crítica. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1993, p. 48.
[11] - KANT apud SANTOS, Douglas. A reinvenção do espaço. Diálogos em torno da construção do significado de uma categoria.. São Paulo: Editora UNESP, 2002, p. 180 - 181.
[12] - Ibid., op. cit., p. 174
[13] Ibid., op. cit., p. 181
[14] CASTELLS, Manuel apud in SOJA, Edward W., op. cit., p. 89 - 90.
[15] - LEFEBVRE, Henri apud in SOJA, Edward W., op. cit., p.102.
[16] - SOJA, Edward W., op. cit., p. 107
[17] SANTOS, Milton, op. cit., p. 18.
[18] - Ibid., op. cit., p. 21.
[19] Ibid., op. cit., p. 22
[20] - Ibid., op. cit., p. 23

[21] - SPOSITO, Eliseu Savério. Geografia e Filosofia. Contribuição ao ensino do pensamento geográfico. São Paulo: Editora UNESP, 2003, p.111.
[22][22] MORAES, Antonio Carlos Robert. Ratzel. Coleção grandes cientistas sociais. São Paulo: Ática, 1992, p.2

[23] Ibid. Ibidem
[24] - Ibid., op. cit., p. 148
[25] - HAESBAERT, Rogério. Da desterritorialização à multiterritorialidade. São Paulo: Anais do X Encontro de geógrafos da América Latina, Universidade de São Paulo, p. 6775.
[26] - SHEIR, Raul Alfredo. Trajetórias do conceito de paisagem na Geografia. Curitiba: R.RA’EGA, n º 7, 2003, p. 80 - 81.
[27] SANTOS,Milton, op. cit., p. 103.
[28] Ibid. ibidem pg 104
[29] - SANTOS,Milton, op. cit., p. 61



AS NOVAS TECNOLOGIAS DE ENSINO NA EDUCAÇÃO BÁSICA
                                                                  Mª de Jesus Benjamin da Silva
                                                                         Mário Benjamin Dias
As novas tecnologias vêm modificando significativamente a relação do homem com o mundo, elas tem facilitado o trabalho, a comunicação e outras atividades do cotidiano, já que hoje se torna mais difícil pensar numa sociedade sem tecnologia, pois em cada segmento social encontramos a presença de instrumentos tecnológicos. Pertencemos a um mundo cada vez mais globalizado e digital, embora saiba-se que nem todos tem acesso a essa tecnologia. A globalização abriu novos caminhos e possibilidades para que se busquem novos conhecimentos, isto e, em todas as áreas principalmente a do ensino escolar. Essas transformações se materializam em diferentes formas (econômico, econômico, político-social, cultural, ambiental) no espaço geográfico. Esse período de aceleração espaço-tempo, impôs ao mundo da educação momentos caracterizados pela sociedade do conhecimento, mediada pelo chamado meio técnico-científico-informacional, no qual as complexas relações impõem novas formas de pensar, refletir, agir e se relacionar no e com o mundo. As tecnologias desenvolvidas nesse período e a força com que se disseminam na sociedade abarcando praticamente todas as atividades de produção, armazenamento, distribuição, comunicação e consumo de informações produzem expectativas em relação às formas de análise, transmissão e apreensão dos saberes (novas formas de produzir e consumir conhecimento). E, considerando que essas mudanças nem sempre são acompanhadas e repassadas no ambiente escolar (isso porque nem todos os profissionais têm oportunidade ou disponibilidade de tempo para tal) impondo novos desafios à escola no limiar do século XXI, a atuação dos docentes que desenvolvem seus trabalhos na Educação Básica deve ser repensada, pois os novos paradigmas requerem metodologias de ensino variadas associadas a novas tecnologias. Desta forma a escola não pode ficar excluída desta realidade virtual, devendo se apropriar e incorporar os avanços destas tecnologias na prática educativa, de forma adequada e eficaz, promovendo uma “virtualização” do conhecimento. Esse repensar, está ligado a uma concepção de educação democrática onde os diversos atores (diretores, professores, alunos, pedagogos, coordenadores, Estado e etc.) envolvidos nesse processo se articulem com o objetivo de oferecer um ensino de qualidade que permita ao homem se construir como tal, satisfazendo suas necessidades individuais, a busca por fins coletivos e a integração a realidade de seu tempo. Um sentido libertador que contribuirá para que nas escolas se promova uma educação em favor de todos os homens. E nesse contexto, para problemazar ainda mais vale ressaltar que na era moderna grande parte dos profissionais da educação passaram por um processo progressivo de atualização através da chamada “reciclagem padrão”, que consistia em capacitar esse profissional, relacionando-o às inovações, aos novos programas e tecnologias de ensino. Trata-se de estar constantemente atualizando os sujeitos que fazem a educação sobre os novos descobrimentos da ciência, e como esse conhecimento (seja ele teórico ou prático) pode ser utilizado para a ação no seu universo de trabalho. No caso dos professores, mais precisamente na área de ensino. Porém, essa “formação” acaba tendo um caráter de “informação”, onde o conhecimento torna-se quase um objeto concreto que existe independente dos indivíduos em que repousa. Ou seja, não sofre interação e tão pouco transformação ao ser utilizado pelos sujeitos que o transmitem, e nem pelos sujeitos que o apreendem. Isso acaba negando a importância desse profissional, tanto para formar alunos críticos e em sintonia com as transformações que se materializam no espaço geográfico, quanto para uma formação cidadã, amplamente articulada com questões sociais. Em decorrência desses fatores, defendemos uma formação continuada não como sinônimo de “continuísmo”, que está ligado a incorporação e transmissão de informações e novas metodologias de ensino para a manutenção de uma determinada estrutura ideológica vigente; e sim uma formação mais crítica (social) que não considere o corpo de conhecimentos disponível como algo fechado, verdadeiro e imutável. Neste contexto, o projeto de educação continuada consiste em estudar e proporcionar formas de capacitação articulada a mudanças importantes, tais como: metodologias associadas às novas tecnologias de ensino, voltadas para esses profissionais da educação. Um ensino que vá além do uso da linguagem oral e escrita, dos recursos do giz, quadro e livro didático, e educar para o desenvolvimento tecnológico, mediante a utilização das novas tecnologias das imagens, como dos novos produtos de software. Ressaltando o que é importante, ou seja, que os professores conheçam os objetivos, as diretrizes e normas governamentais, o posicionamento de seus elaboradores, a fim de que possam tornar suas práticas mais eficazes, e, por conseguinte, compromissadas com a superação das desigualdades, das injustiças, dos preconceitos, ultrapassando obstáculos por meio de uma formação continuada, já que se deve levar em consideração que esse profissional tem poucas oportunidades de continuar sua formação em nível de pós-graduação, em face de uma diversidade de fatores. Assim, a educação continuada está associada a uma formação teórica-prática, onde são utilizadas metodologias facilitadoras que possibilitem uma releitura do mundo decorrente das transformações que ocorrem no período contemporâneo, e da velocidade com que as mesmas são veiculadas e processadas, colocando à escola novos desafios. O que requer a formação de um novo professor, capaz de criar e adaptar procedimentos, de enfrentar a complexidade de situações do mundo moderno que se refletem no ambiente educacional. Por isso devemos refletir sobre nosso mundo, compreendendo-o do âmbito local, nacional e por conseguinte o planetário. A Geografia é um instrumento indispensável para entendermos essa reflexão, que deve servir de base para a nossa atuação no mundo. Aprender Geografia na Educação Básica tem sido percebido por muitos, como uma forma tradicional e antiga de lidar com os novos contextos, ou seja, com aulas expositivas, utilização do quadro de giz e algumas vezes mapas que apesar de ser instrumento fundamental para os geógrafos acabam sendo relegados pelos professores e se comparado as novas tecnologias um material estático. Esses recursos podem até ser eficaz, porém, esta forma de ensino não estimula os alunos. Deste modo, o ensino de Geografia deve ser ministrado através de outros recursos, que irão facilitar à assimilação desta disciplina. Na Educação Básica tem-se constatado que através das aulas expositivas, por vezes com utilização de mapas e alguns outros recursos, os alunos sentem dificuldades de apreender os conteúdos, assim, as novas tecnologias podem facilitar este aprendizado É importante ressaltar que a geografia enquanto ramo do conhecimento científico tem sua gênese atrelada a uma visão clássica tradicional, pois, desde que se institucionalizou como ciência no século XIX seu método de análise esteve pautado em uma lógica positivista, como enfatiza (STRAFORINI 2004, pg 57): O objetivo da escola tradicional é a transmissão de conhecimentos, ou seja, uma preocupação conteudista. Dessa forma, o aluno é visto como um agente passivo, cabendo a ele decorar e memorizar o conjunto de conhecimentos significativos da cultura da humanidade previamente selecionados e transmitidos pelo professor em aulas expositivas. O mundo é uma externalidade ao aluno, ou seja, não é dado a ele a possibilidade de sua inserção no processo histórico. Assim, o conhecimento é concebido como uma informação que é apreendida unicamente pela memorização. Esse método de análise dedutivo-inditivo buscava com o auxílio do corpo de conhecimentos científicos disponíveis o entendimento da realidade através da fragmentação, estaticidade e descrição de aparências e formas. Não concebendo o mundo em seu caráter múltiplo, complexo e contraditório. Negando assim, seu constante movimento (sua perspectiva histórica). Nas escolas a geografia que era ensinada não poderia ser diferente, pois os conteúdos eram tratados de forma superficial (repasse apenas), fragmentada, e sem qualquer relação com a realidade e a interdisciplinaridade. Porém, em meados da década de 70 esse contexto começou a mudar com a inserção do materialismo histórico-dialético como método de análise da ciência geográfica. Isso porque a geografia tradicional não conseguia mais explicar o mundo, não dando conta da complexidade de elementos e processos da sociedade daquele momento. O método materialista histórico e dialético utiliza a formação econômico-social para a compreensão dos fenômenos que se manifestam no espaço geográfico. Onde aspectos da realidade passam a ser pensados enquanto totalidade, constante contradição, e sobre uma perspectiva de mudança perpétua que leva em consideração os fatores históricos nas análises, ou seja, ilustram o caráter dinâmico do espaço geográfico. Esses fatores também se manifestam no ensino, pois com a inserção da chamada geografia crítica nas escolas, há a defesa da transformação da realidade social pelo saber crítico, construído na análise da produção do espaço geográfico pelo homem através da apropriação da natureza (mediada pelo trabalho), e da sua relação com a sociedade. Vale ressaltar que esse processo de transição da geografia tradicional para a geografia crítica não é algo consolidado, pois atualmente profissionais ainda trabalham a vertente tradicional, e outros que se dizem “críticos”, também continuam a exercer uma geografia fragmentada e sem construção, Nesse sentido (STRAFORINI 2004, pg 49) destaca que: Na verdade, a geografia crítica foi apresentada para a grande maioria dos professores através de livros didáticos, pulando a mais importante etapa: sua construção intelectual. Da mesma forma que os conteúdos chegavam aos professores de maneira pronta e acabada na geografia escolar tradicional, os conteúdos sob a luz da geografia crítica também assumiam o mesmo papel junto aos professores, ou seja, de essencialmente dinâmicos, na prática continuavam estáticos. É justamente para contribuir na solução dessas questões e formar um novo educador que estamos desenvolvendo o projeto “A geografia na educação básica: uma proposta de educação continuada para professores do Estado do Pará”. Seus objetivos principais são: organizar reuniões cientifica voltadas para a discussão do ensino de Geografia na educação básica; formação de grupo de estudo permanente que discutam sobre teorias da aprendizagem, utilização diferenciada de metodologias de ensino, educação à distância, entre outras; incentivar a produção científica, assim como a organização de eventos científicos e de um acervo voltado para o ensino de geografia na educação básica. Essas ações envolvem discentes da graduação em Geografia, como forma de complementação de sua formação acadêmica. Dentre as metas do projeto destacam-se capacitar o maior numero possível de professores de geografia da Educação Básica a partir das categorias geográficas; desenvolver habilidades de transposição didática do conhecimento acadêmico geográfico (produção de texto); instrumentalizar professores de ensino de geografia a confeccionarem recursos didáticos a partir de experiências vividas; desenvolver competência para a leitura, compreensão e produção de mapas, cartas, imagens, globos, etc (alfabetização cartográfica); desenvolver competências e habilidades para a utilização de novas metodologias de ensino (musica, internet, cinema, jornais, revistas, jogos interativos, tv etc.); ressignificar os processos avaliativos, levando em consideração os aspectos qualitativos e quantitativos na relação ensino-aprendizagem. Esse trabalho vem sendo desenvolvido por meio de oficinas de produção de materiais didáticos sobre as categorias do pensamento geográfico; da alfabetização cartográfica; da utilização de livros didáticos; uso de Internet no ensino de geografia; da mídia e o ensino de geografia; da literatura, da fotografia; a paisagem geográfica e suas diferentes formas de representação. Como forma de socialização dos resultados, estão previstos seminários sobre práticas docentes em geografia (ciclo de palestras, trabalho de campo, entre outros.). A proposta parte de uma concepção de educação e formação continuada em que os professores são vistos enquanto atores fundamentais que atuam na formação dos futuros cidadãos brasileiros. Se a educação e os professores continuarem a serem vistos como meros agentes passivos do processo, não atingirão a meta prevista, que é de formar cidadãos críticos e reflexivos.