Mulher da Amazonia

segunda-feira, 11 de abril de 2011

URBANIZAÇÃO E QUALIDADE DE VIDA NO DISTRITO DE ICOARACI BELÉM/PARA/BRASIL

URBANIZAÇÃO E QUALIDADE DE VIDA NO DISTRITO DE ICOARACI BELÉM/PARA/BRASIL
                                               Maria de Jesus Benjamin da Silva[1]
                                               Mario Benjamin Dias[2]
RESUMO
O processo de urbanização trouxe para as cidades dois problemas graves: a exclusão social e a especulação imobiliária. No sentido de reverter a degradação do meio ambiente urbano, de acordo com o Estatuto da Cidade - Lei Federal 10.257, promulgada em 10 de julho de 2001,cabe ao  administrador municipal fornecer os instrumentos necessários para planejar a cidade que desejamos e controlar o uso da propriedade, a fim de que não prejudique a qualidade de vida dos cidadãos
O objetivo deste trabalho é fazer uma reflexão sobre o conceito de qualidade de vida, destacando os possíveis indicadores e índices utilizados para avaliar tal qualidade e como os mesmos podem contribuir na evolução das Políticas Públicas voltadas para a problemática urbana e a qualidade de vida dos moradores citadinos em detrimento de uma acelerada urbanização, resultado de um processo desvinculado de ações mínimas de planejamento.no Distrito Administrativo de Icoaraci, pertencente a Região Metropolitana de Belém/Pará/Brasil.
         
PALAVRAS CHAVES: Urbano-ambiental, Qualidade de vida; Segregação. Urbanização

INTRODUÇÃO
Nas últimas décadas as preocupações com relação à qualidade de vida nas cidades têm se intensificado, haja vista que o adensamento populacional, sem o devido planejamento, tem gerado uma série de conseqüências negativas à vida urbana, tais como, enchentes, tráfego intenso de veículos, sobrecarga do transporte urbano e todo o tipo de poluição (ar, água e visual).
De acordo com o Relatório da Situação Mundial das Cidades 2006/07, do Programa da Organização das Nações Unidas, pela primeira vez na história, a população dos centros urbanos iria ultrapassar a de  áreas rurais[3]. Assim, mantendo-se os índices de crescimento e de urbanização, o Brasil em 2020 possuirá 55 milhões de pessoas vivendo em favelas.
Sem sombra de dúvida, isso é preocupante, pois, além da exclusão social gerada pela expansão horizontal das cidades em periferias despidas de equipamentos urbanos e serviços, observam-se também no processo de urbanização a valoração de áreas nobres e a especulação imobiliária, que promove a verticalização das edificações, o parcelamento do solo e, por conseqüência, a sobrecarga das estruturas urbanas já estabelecidas. MILARÉ (2005, p. 717) expressa esta mesma preocupação ao apontar que:

Os elevados índices de urbanização e, inversamente, os baixos níveis de urbanismo vêm criando situações insustentáveis para o Poder Público e a coletividade. O inchaço doentio dos centros urbanos (aumento desregrado da população) não tem encontrado o contrapeso das estruturas urbanas necessárias (moradia, trabalho, transporte e lazer), gerando-se daí formas endêmicas de males urbanos. E  o que é pior  o fascínio das cidades e a concentração populacional crescem sem o necessário controle quantitativo e qualitativo desse crescimento

O objetivo deste trabalho é fazer uma reflexão sobre o conceito de qualidade de vida, destacando os possíveis indicadores e índices utilizados para avaliar tal qualidade e como os mesmos podem contribuir na evolução das Políticas Públicas voltadas para a problemática urbana e a qualidade de vida dos moradores citadinos em detrimento de uma acelerada urbanização, resultado de um processo desvinculado de ações mínimas de planejamento.no Distrito Administrativo de Icoaraci, pertencente a Região Metropolitana de Belém. Esta descrição configura a realidade vivida em diversas cidades brasileiras, em particular naquelas criadas de forma impar nas margens dos imensos rios da região amazônica, que se apresenta como um pequeno centro urbano que vive um nítido processo de expansão desde o início do século, acentuado nas duas ultimas décadas
Uma das mais sérias conseqüências deste intenso processo de urbanização é, sem dúvida, a deteriorização das condições ambientais na área urbana desses  municípios. Que de acordo com DIAS 2007 pg 41)

o principal fator gerador da forte concentração populacional nas cidades é resultante, da forte migração impulsionada por uma série de fatores como: o êxodo rural, a crescente concentração de terras que deu origem aos latifúndios mecanizados e monocultores, a má distribuição de renda associada a essa crescente concentração nas mãos de uma minoria, o fraco desenvolvimento econômico que não é capaz de gerar mercado de trabalho à maioria da população ativa, entre outros”

A cidade de Belém sofreu um adensamento demográfico que culminou com o surgimento de áreas periféricas, rumo ao seu interior e ocupação dos distritos oriundas principalmente de ocupação de terras particulares ou à margem de vegetações ciliares, onde a qualidade de vida demonstra indicies muito aquém dos preconizados, devido a quase total ausência de serviços de saneamento básico e onde as condições do ambiente naturais sofrem fortes impactos negativos.
Portanto, cumprindo o que está estabelecido na Constituição, em 10 de julho de 2001, foi promulgada a Lei Federal 10.257, denominada Estatuto da Cidade, que “estabelece normas de ordem pública e interesse social que regulam o uso da propriedade urbana em prol do bem coletivo, da segurança e do bem-estar dos cidadãos, bem como o equilíbrio ambiental”. Ao se analisar o enunciado da lei e as diretrizes gerais estabelecidas no Estatuto da Cidade observa-se uma clara preocupação do legislador com relação à harmonização entre os fatores econômicos[4], ambientais e sociais urbanos, onde exatamente esta integração caracteriza a garantia do direito a cidades sustentáveis[5].
De acordo com a Constituição Federal de 1988 que estabelecer a Política urbana no Título VII – Da Ordem Econômica e Financeira, os aspectos sociais e ambientais também fazem parte deste conceito e sua análise e aplicação deve ser integrada com os vários outros temas tratados em nossa Carta Maior
Em Belém os espaços reservados ao uso comum da população não apresentam arborização suficiente ao equilíbrio ambiental e mostram a precariedade dos serviços de manutenção. Tal realidade, ora se manifesta, pela ausência de mecanismos de gestão ambiental na cidade de Belém, especificamente no distrito. Não existe a preocupação de se implementar medidas preventivas de situações como as descritas anteriormente, pois até se desconhece os potenciais problemas que poderão advir de tais situações. Sem um planejamento, muito bem elaborado, baseado na realidade diagnóstica, o processo de expansão urbana em Icoaraci, muito provavelmente, em um futuro bem próximo, tornara a cidade em um lugar insalubre, com decréscimo da qualidade de vida e esgotamento dos recursos naturais que, necessariamente fazem parte da estrutura urbana desta cidade, tornando-a praticamente um lugar  insustentável. Entre todos os componentes que devem interagir na busca de um desenvolvimento sustentável para Belém, a participação da população é imprescindível. É na capacidade de agir e reagir de seus atores principais, que são os moradores, que novos rumos poderão ser tomados em um processo de urbanização que contemple o desenvolvimento e o espaço natural.
Sabe-se também que a produção energética na Amazônia é suficiente para atender a demanda e seus impactos ambientais negativos refletem um dos mais graves riscos a contaminação dos mananciais que cortam a cidade. 
            Dessa forma dizer que as cidades constituem os mais característicos ecossistemas da terra, sendo palco das atividades humanas nas mais distintas regiões desde períodos bem remotos. Em sua maioria, tanto as metrópoles como as pequenas cidades configuram seus desenvolvimentos baseados no sistema capitalista, que após a revolução industrial, direcionou a produção do espaço urbano em que a dicotomia homem-natureza foi sendo imposta contínua e gradativamente. Ao analisarmos as cidades em um contexto mundial, observamos, pois, que apesar das peculiaridades de cada uma, a maioria reflete em seu espaço urbano a ação antrópica  no espaço natural, revelando um contraste que quase sempre culmina com a degradação ambiental. Essa situação é percebida com maior facilidade nos países periféricos, onde se constata a queda assustadora da qualidade de vida
Para  trabalhar o termo qualidade de vida corre-se o risco de se falar de uma panacéia, ou de termos que não estão relacionados com essa  categoria difusa, muito ampla, subjetiva. Para a definição deste conceito buscou-se, além da observação empírica, as reflexões de vários autores dos quais destacam-se Jannuzzi (2004;pg 67); Lefebvre (2002;pg 28); Lynch (1994;pg 96); Schwartzman (1974;pg 49) e Souza (2002;pg 60)  entre outros.
Ao refletir sobre as dificuldades para se fazer uma avaliação da qualidade de vida, Schwartzman (1974;pg 49) aponta alguns critérios possíveis: liberdade de escolha; satisfação de necessidades psicológicas fundamentais e a extensão do conceito de participação. Retomando Marshall 1988;pg 39 e considera que qualidade de vida tem a ver com expansão e consolidação dos direitos civis, políticos e sociais. Para ele o problema da qualidade de vida não é prioritariamente de consumo e implica em “uma noção clara e explícita de uma política de desenvolvimento social” (Schwartzman, 1974, p. 107).
Levam-se também em consideração as observações de Jannuzzi sobre o conceito de “Condições de Vida”. Segundo ele tal conceito “poderia ser operacionalmente traduzido como o nível de atendimento das necessidades materiais básicas para sobrevivência e reprodução social da comunidade”. Nesse caso as dimensões operacionais de interesse seriam as condições de saúde, habitação, trabalho e educação dos indivíduos da comunidade, dimensões para as quais existiriam estatísticas públicas disponíveis que possam ser combinadas em um sistema de indicadores sociais que represente, aproximada e operacionalmente, o conceito de condições de vida inicialmente idealizado (JANNUZZI, 2004, p. 19).
Lefebvre discutiu a questão do optimum urbano criado por teóricos soviéticos em 1925 para mensurar, em termos de superfície e de número de habitantes, o tamanho ideal de uma cidade para se ter qualidade de vida. O autor apontou as objeções a esse tipo de medida dada à dificuldade de definição de critérios para esse optimum. Ele também chamou a atenção para o fato de que o optimum desejável na verdade é o optimum administrável, ou seja, exeqüível em determinado local e contexto  (LEFEBVRE, 2002, p.90).  
Tal discussão nos remete a questões de difícil resposta. Quais seriam as referências para criação de critérios de qualidade de vida: biológicas, tecnológicas, físicas ou filosóficas?  Ou tais referências se encontrariam em um somatório de todas as outras citadas?    No questionamento do controle de demandas, vale considerar o pensamento de SOUZA, que além de apontar a relação entre qualidade de vida e satisfação de necessidades de uma parcela cada vez maior da população, faz uma importante vinculação entre qualidade de vida, justiça social e autonomia:
ma vez que o caminho democraticamente mais legítimo para se alcançarem mais justiça social e melhor qualidade de vida é quando os próprios indivíduos e grupos específicos definem os conteúdos concretos e estabelecem as prioridades com relação a isso, podem-se considerar justiça social e qualidade de vida como subordinados à autonomia individual e coletiva enquanto princípio e parâmetro. Daí as duas faces da autonomia, a individual e a coletiva deverem ser entendidas como parâmetros subordinadores [...]. Mais justiça social e uma melhor qualidade de vida são, de um ponto de vista operacional, parâmetros subordinados àquele que é o parâmetro essencial do desenvolvimento sócio-espacial, que é a autonomia. (SOUZA, 2002, p.66, grifo nosso).

Identifica-se aqui uma ambigüidade em relação à qualidade de vida urbana. Como se discute, para que um espaço tenha qualidade é necessário que se tenha controle sobre ele, entretanto, a qualidade de vida depende da autonomia tanto individual quanto coletiva. Tal qualidade refere-se então a escolhas e preferências. Não é objetivo deste trabalho discutir a dimensão desta autonomia e deste controle. Entretanto, tais considerações são importantes para se delimitar um conceito de qualidade de vida.
A expansão urbana, não só da cidade de Belém, mais em quase todo o Brasil, se dá cada vez mais de forma acelerada e desordenada, agravando a degradação do meio ambiente, a exclusão social e, conseqüentemente, diminuindo a qualidade de vida nas cidades. O estilo de desenvolvimento do sistema capitalista faz com que se estabeleça uma relação de exploração do homem pelo homem e da natureza pelo homem. A  exemplo das grandes metrópoles e centros regionais,
 Belém sofre com graves problemas urbanos ambientais, fruto de uma expansão urbana rápida que teve seu ápice na década de 60, com o engajamento da região ao cenário nacional, através das políticas de implantação dos grandes projetos para a Amazônia. Diante desta situação houve a expansão da população  para os  bairros  e distritos próximos, para comportar tal crescimento populacional, a dinamização da economia belenense e como resultado um maior consumismo.
A partir deste momento a cidade de Belém e sua região metropolitana vêm crescendo cada vez mais juntamente com a sua população, tendo esta um aumento considerável, levando em conta o crescimento vegetativo da mesma, a migração de pessoas oriundas do interior paraense e de outros estados do Brasil que optam por morar em Belém.  Atrelado a este crescimento populacional, está o aumento desenfreado dos problemas ambientais, sendo os principais: desmatamento; degradação de áreas verdes,  o aumento da concentração asfaltica e de concreto, culminando com o surgimento de micro climas; poluição atmosférica; poluição sonora e visual; poluição de mananciais e lençóis freáticos e o aumento da produção de lixo.
Na Região Metropolitana de Belém, a natureza do processo histórico da produção, apropriação, uso e consumo do espaço, resultaram entre outros fatores, em um ambiente marcado pelas desigualdades sociais e ambientais, como resultantes de um processo mais amplo, no qual a segregação sócio-espacial-ambiental é marcante no momento atual. O espaço urbano, como produto desses processos, resulta em ambientes produzidos com paisagens diferenciadas, em função dos conflitos de interesses sociais ou de classes que permeiam a sociedade.
No processo de expansão do núcleo urbano de Icoaraci, as áreas de cotas baixas passaram a ser alvos da ocupação pela população de menor poder aquisitivo em função de que estas, em grande maioria, localizam-se próximo e no interior dos bairros pioneiros, onde se encontram as principais funções e os equipamentos de consumo coletivos.

O distrito de Icoaraci, após sua integração à metrópole paraense, passou por um intenso movimento de ocupação de terras públicas e privadas em função do próprio processo de periferização da cidade de Belém e do crescimento do distrito, passando a constituir-se em verdadeiros movimentos sociais em prol do direito de morar. Dessa forma, os proprietários entraram em conflitos com os ocupantes e travaram verdadeiras batalhas judiciais em busca da reintegração de posse da propriedade.
A luta pela terra urbana e o direito de morar têm se configurado como um processo de longa duração, pois a institucionalização da Lei de Terras no país proporcionou a concentração destas nas mãos daqueles que detinham maior poder econômico e político, enquanto parcelas das populações destituídas dessas condições, passaram a ser organizar em buscas de alternativas para adquiri-las, o que ganhou maior relevância nas últimas décadas do século XX, em função das condições econômicas que o país passou a vivenciar e à política do Estado que pouco ou nenhum investimento em habitação popular realizou, conseqüentemente obrigando parcelas da população de menor ou nenhum poder econômico a ocupar terras urbanas como alternativas à moradia.
Analisando o ambiente urbano é importante o enfoque dos problemas socioambientais, como segregação, periferização, ausência de políticas públicas (escolas, saúde, habitação entre outras) voltadas para uma grande parcela da população colocando em evidência que tais processos estão vinculados à degradação social e ambiental. Partindo dessa premissa, compreendemos que o espaço urbano, por sua natureza, é dinâmico, complexo e contraditório em função da forma de como é produzido, e que historicamente está associado à forma de sua ocupação e de seu uso, o que significa dizer que a sociedade, em seu processo de constituição, produz, reproduz, apropria e consome o espaço como reflexo de seu próprio desenvolvimento.
Partindo do pressuposto de que a cidade é formada por espaços diferenciados, como produto da sociedade dividida em classe, e que esta se localiza de acordo com os níveis de renda, como materialização  dessas ações  encontrou classes e frações de classes vivendo em espaços da cidade em condições precárias de vida. Há, portanto, uma luta pelo direito à cidade, à cidadania plena e à apropriação desta. Porém, é necessário se estabelecer uma indagação sobre as condições do ambiente na cidade. Se a cidade é produto de relações sociais, ela não é um espaço homogêneo em função do jogo de interesses dos agentes envolvidos, o que se pressupõe  afirmar que há injustiça social em função da exclusão de massa de trabalhadores que estão à margem dela, assim como existe concomitantemente  uma injustiça ambiental, que impõe a parcelas significativas da população a viverem à margem da cidade, excluídos de espaços, com melhores condições sócio-ambiental a reprodução do homem.
A discussão em torno da qualidade do ambiente das cidades, no momento atual, demonstra que essa situação não ocorre apenas no nível local, mas também no mundial, e estão associadas à forma de como o capitalismo se desenvolveu ao longo do processo histórico e de como as cidades são produzidas. Para (CARLOS, 2004, p. 146), “pois o que degrada o meio ambiente é o modo como se realiza o processo de acumulação respondendo a uma lógica da reprodução capitalista”, que por sua natureza, ao produzir a cidade, promove o processo de degradação e a segregação sócio-espacial-ambiental.
Desse modo, foi nas últimas décadas de século XX, que a população carente, não somente a de Icoaraci, mas de outras localidades, passou a ocupar as áreas urbanas inóspitas ainda disponíveis, as várzeas dos rios e igarapés existentes no interior do núcleo, principalmente os do Tabocal em primeiro lugar, originando a ocupação denominada de “Cubatão” e, posteriormente, a do Paracuri, Tenoné  e as margens da baía do Guajará, produzindo a mesma lógica imprimida no contexto metropolitano, com número significativo de ocupações no espaço urbano. A partir desse período, as ocupações urbanas no distrito de Icoaraci e na RMB, tornaram-se práticas corriqueiras, principalmente nos bairros mais afastados do núcleo pioneiro, onde ainda existia terra disponível e, a maioria das vezes, com comprometimento ambiental,
Nas décadas passadas Belém foi considerada a capital com maior índice de ocupações de terras. O distrito de Icoaraci, como parte integrante da metrópole, não ficou livre desse processo, como bem demonstra o (quadro 1). As ocupações ocorreram acompanhando os principais vetores de ligação com Belém e/ou com o núcleo urbano do distrito, com as margens da baía do Guajará, com as várzeas dos rios e com os igarapés existentes nele. Os que, predominam nas ocupações de terra e na periferia é a população de origem local.
Um aspecto interessante que nos chama atenção diz respeito às ocupações ao longo das várzeas dos rios e igarapés, denominados “moradores de rios urbanos”,[6]  pois grande parte desses moradores busca reproduzir o modo de vida “rural” como forma de enfrentar as adversidades do viver na cidade, que impõe novas relações, principalmente as monetarizada.

De forma geral, as ocupações urbanas imprimiram uma nova paisagem no espaço urbano das cidades amazônicas, que têm se acentuado nas últimas décadas em função da falta de investimentos em habitação popular, forçando contingentes da população a submeterem-se a viverem nesse ambiente.
A população que vive nas ocupações é formada, na maioria, por um contingente de mão-de-obra desqualificada para o mercado formal de trabalho urbano. Vivem sobremaneira no setor informal da economia, atividades que não requerem mão-de-obra especializada ou fazem pequenos trabalhos de forma precarizado.
Este último desperta relativa preocupação por estar interligado com a poluição dos mananciais e lençóis freáticos e pelo seu destino final..Esta pesquisa se propões  trazer para análise a problemática a tona, no que concerne a seu destino final que é qualidade de vida e os problemas ambientais dessa pessoas que habitam os  lugares insalubres do distrito e as mazelas sociais. Sabe-se que a qualidade de vida e os problemas ambientais urbanos estão correlacionados, porque a urbanização é um fato que traz consigo problemas que tem afetado a vida da população na cidade. Hoje já se sabe que qualquer alteração no ambiente, reflete numa cadeia de conseqüências. Essas alterações influenciam na qualidade do meio urbano e conseqüentemente na qualidade de vida das pessoas.
       Sabe-se da dificuldade em avaliar objetivamente um conceito abstrato e complexo como qualidade de vida. É possível, então, se medir tal qualidade?         Acredita-se que esta mensuração se dê

 “no plano dos parâmetros subordinados particulares ou das adaptações singularizantes. Esses parâmetros darão lugar a indicadores, elaborados para fazerem face a objetivos bem determinados. Não se trata de todo modo, de uma construção apriorística de indicadores pretensamente universais, a construção de indicadores deverá, bem ao contrário, se dar tão próxima quanto possível da realidade dos contextos valorativos dos grupos sociais específicos envolvidos”. (SOUZA, 2002, p.82).
Infere-se que a escolha adequada de indicadores e a criação de índices específicos para se medir qualidade de vida são um desafio.   Um indicador social é “um recurso metodológico, empiricamente referido, que informa algo sobre um aspecto da realidade social ou sobre mudanças que estão se processando na mesma.  É o elo de ligação entre os modelos explicativos da teoria social e a evidência empírica dos fenômenos sociais observados” (JANUZZI, 2004, p.15).
JANNUZZI (2004, p.26-31) analisa as propriedades desejáveis de um indicador social, das quais se destacam: a relevância social, a validade, a confiabilidade, a cobertura, a sensibilidade, a comunicabilidade, a periodicidade na atualização e a historicidade.
O citado autor também apresenta a classificação básica dos indicadores entre objetivos (ou quantitativos) e subjetivos (ou qualitativos). Os primeiros se referem a “ocorrências concretas ou entes empíricos da realidade social, construídos a partir das estatísticas públicas disponíveis. Os indicadores subjetivos ou qualitativos, por outro lado, correspondem a medidas construídas a partir da avaliação dos indivíduos ou especialistas com relação a diferentes aspectos da realidade, levantadas em pesquisas de opinião pública ou grupos de discussão” (JANNUZZI, 2004., p.20-21)
Como aponta publicação do Instituto Polis (1994), os indicadores são informações quantitativas que expressam e procuram descrever um determinado aspecto da realidade ou apresentam uma relação entre vários aspectos desta. Estão sempre sujeitos a opções políticas e a distintas visões dos aspectos da realidade. Assim, os indicadores de qualidade de vida não podem e não devem ser considerados uma forma absoluta de explicação e comparação. Deve-se levar em conta as especificidades de cada situação, considerando-se variáveis tais como a configuração econômica, a localização geográfica e outras condicionantes da qualidade de vida.
Segundo JANNUZZI classifica os indicadores de qualidade de vida em:  1- Indicadores subjetivos: “são construídos a partir do levantamento de um conjunto amplo de impressões, opiniões e avaliações sobre diferentes aspectos do ambiente sócio-espacial da população, abordando a satisfação quanto ao domicílio, às facilidades existentes no bairro e às economias e deseconomias da vida do município, das condições materiais às aspirações pessoais” (JANNUZZI,2004, p.112). Ex: satisfação com a moradia, satisfação com o bairro, vizinhança ou cidade, intenção de mudar-se de domicílio, de cidade.
2- Indicadores objetivos:  a) Indicadores de criminalidade e homicídios: nível de segurança pessoal calculado a partir dos registros administrativos das Secretarias de Segurança Pública;  b) Indicadores de alocação de tempo: controle individual do tempo diário, em especial para atividades de convívio familiar e social, lazer, esporte e cultura a partir do indicador de tempo gasto com transporte de casa para o trabalho ou escola;  c) Indicadores Ambientais: aqueles que dizem respeito à disponibilidade de recursos naturais, à forma de uso destes e aos resíduos gerados no seu consumo. Deriva-se de informações censitárias sobre infra-estrutura urbana, mortalidade por causas específicas, além de pesquisas institucionais com prefeituras ou concessionárias de serviços públicos sobre o destino final e tratamento de dejetos e de coleta de lixo.
Apesar das limitações em termos de validade e confiabilidade, um indicador muito utilizado em relatórios de indicadores sociais é a taxa de urbanização a qual “dimensiona a parcela da população nacional ou regional que reside em áreas urbanas, e, portanto, em tese, com maior acessibilidade aos bens públicos, serviços básicos de infra-estrutura urbana  e serviços sociais, que estão interligados com a  falta de infra-estrutura que se manifesta pelo não investimento em políticas sociais capazes de garantir melhor atendimento, como da saúde, educação, saneamento, transporte, entre outras, sendo que a maioria de sua população, ao necessitar de melhores serviços, tem que se deslocar até Belém. Ademais, apesar das indústrias empregarem grande número de operários, elas não são suficientes para absorver a grande massa de trabalhadores locais que se vêem obrigados a procurar em Belém, mercados que sejam capazes de absorvê-los e vice-versa, por isso, contribuem para sobrecarregar o sistema de transporte coletivo bastante precário e deficitário.
 A cidade, enquanto obra humana apresenta diferentes ambientes, expressos na paisagem, nas áreas centrais e periferias (loteamentos clandestinos, áreas de baixadas, ocupações urbanas, entre outras). Em muitos casos, esses ambientes caracterizam um mesmo padrão de ocupação, ou seja, de forma espontânea, sem preocupação, por parte do Estado, de um ordenamento territorial em que a qualidade do ambiente,  não é levado em consideração, compromete-o seriamente, resultando, na maioria das vezes, na deterioração da qualidade de vida. O que pode ser apontado como responsável por essa situação, é a ausência de políticas públicas urbanas, articuladas ao planejamento integrado com maior participação popular.
Partindo do pressuposto de que a cidade é formada por espaços diferenciados, como produto da sociedade dividida em classe, e que esta se localiza de acordo com os níveis de renda, como materialização dessas  ações, encontramos classes e frações de classes vivendo em espaços da cidade em condições precárias de vida. Há, portanto, uma luta pelo direito à cidade, à cidadania plena e à apropriação desta. Porém, é necessário se estabelecer uma indagação sobre as condições do ambiente na cidade. Se a cidade é produto de relações  sociais, ela não é um espaço homogêneo em função do jogo de interesses dos agentes envolvidos, o que se pressupõe afirmar que há injustiça social em função da exclusão de massa de trabalhadores que estão à margem dela, assim como existe concomitantemente uma injustiça ambiental, que impõe a parcelas significativas da população a viverem à margem da cidade, excluídos de espaços, com melhores condições sócio-ambiental a reprodução do homem.
A discussão em torno da qualidade do ambiente das cidades, no momento atual, demonstra que essa situação não ocorre apenas no nível local, mas também no mundial, e estão associadas à forma de como o capitalismo se desenvolveu ao longo do processo histórico e de como as cidades são produzidas.
O distrito, enquanto lugar específico na metrópole, ganha relações no plano do mundial por apresentar um perfil com características de cidade comercial e uma significativa atividade industrial para os padrões amazônicos, tendo em vista que uma variedade de produtos beneficiados localmente faz parte dos produtos exportáveis para o mercado mundial, além de serviços que atendem a população local e do entorno, apresenta níveis de carência, em determinados aspectos que só são satisfeitas na cidade de Belém. Nesse sentido, é possível compreender o ambiente produzido em Icoaraci, tendo em vista a pressão demográfica pela ocupação e uso do solo urbano pela população em geral e, em particular, de baixo poder aquisitivo associado ao crônico déficit de moradia para a classe trabalhadora que migrou para Icoaraci em busca de melhores condições de vida, em função das atividades econômicas que passaram a ser desenvolvidas localmente.
Tendo por base essa realidade, o discurso sobre a questão do ambiente também se configura na ausência e/ou carência de saneamento, atendimento à saúde, escolas, transportes, etc. Nesse contexto duas outras dimensões da análise também ajudam a compreender essa questão. Uma delas está centrada na questão do direito à cidade; e a outra, no papel do Estado. É como afirma Carlos:
Constatamos que ao ser identificado à idéia de ‘qualidade de vida’ o ‘direito à cidade’ é esvaziado e o debate se resume à constatação das situações que surgem das novas condições de raridades com as quais nos deparamos: a água, o ar, o espaço. O debate, circunscrito ao minimalismo que ignora que estas raridades devam ser entendidas como momentos de único momento histórico; um momento crítico onde a abundância se torna raridade como produto de um modelo de crescimento da economia capitalista, ignora a contradição que funda a realidade (CARLOS, 2004, p. 137)
Um aspecto interessante que nos chama atenção diz respeito às ocupações ao longo das várzeas dos rios e igarapés, denominados “moradores de rios urbanos”, pois grande parte desses moradores busca reproduzir o modo de vida “rural” como forma de enfrentar as adversidades do viver na cidade, que impõe novas relações, principalmente as monetarizadas
No processo de ocupação da terra urbana, é comum a mercantilização dos barracos nas ocupações, decorrente de suas transferências ainda quando essas se  encontram sem as mínimas condições de habitabilidade. Esse processo, em grande parte, corre com a retirada da cobertura vegetal, a demarcação dos lotes e a construção das primeiras habitações, com materiais dos mais diversos, o que reforça uma concepção de que grande parte das pessoas que participam do movimento transformou o mesmo em um grande negócio, ocupa-se e vende-se, para ocupar mais adiante. Em contraposição, a essa tendência, as ocupações nas várzeas e na orla de Icoaraci estão relacionadas ao modo de vida “rural”, o que, de certa forma, mantêm essas populações fixadas nesses lugares. As ocupações mais antigas se transformaram em parte integrantes dos bairros, e são atualmente ocupadas pelo segundo ou terceiro proprietário. Poucos são os moradores originários da primeira ocupação, principalmente ao longo dos eixos rodoviários de ligação com a cidade.
De forma geral, as ocupações urbanas imprimiram uma nova paisagem no espaço urbano das cidades amazônicas, que têm se acentuado nas últimas décadas em função da falta de investimentos em habitação popular, forçando contingentes da população a submeterem-se a viverem nesse ambiente.
A população que vive nas ocupações é formada, na maioria, por um contingente de mão-de-obra desqualificada para o mercado formal de trabalho urbano. Vivem sobremaneira no setor informal da economia, atividades que não requerem mão-de-obra especializada ou fazem pequenos trabalhos de forma precarizado.
Partindo da compreensão de que a cidade formal, do ponto de vista da ordem, do plano urbanístico, sofre a carência de inúmeros equipamentos e serviços de consumo coletivo, podemos imaginar as ocupações irregulares, freqüentemente sem saneamento, energia, transporte público coletivo, postos de saúde, escolas, posto policial, onde são potencializadas suas carências cada vez mais, refletindo e reforçando a segregação sócio espacial-ambiental freqüente nas cidades brasileiras, que além de conviverem com as questões relacionadas à raridade desses elementos naturais, têm que conviver com a ausência do Estado e suas políticas sociais.
A situação do ambiente local torna-se, a cada dia, bastante preocupante. Estudos realizados por meio de levantamentos do sensoriamento remoto revelaram a situação atual do distrito.
Dessa forma, nas áreas próximas aos rios e igarapés, os problemas são mais  graves, tendo em vista que os depósitos de lixo e dejetos humanos são lançados na própria calha dos rios, que aliados à deposição de entulhos por empreendimentos  comerciais voltados para a venda de materiais de construção que depositam seus resíduos na foz dos mesmos, provocam o assoreamento, comprometendo, dessa maneira, o ecossistema fluvial, e, em conseqüência do fluxo e refluxo das marés, transportam diariamente resíduos poluentes para o ecossistema maior da baía do Guajará e furo do Maguari.
 Outro grave problema encontrado e considerado muito sério é que por falta de autonomia econômica e política, o distrito carece de políticas públicas setorizadas voltadas a dirimir as questões sociais mais prementes. Coisas que a vem acontecendo em nível distrital é que ele vem sendo contemplado no Plano Diretor de Belém, recebendo um tratamento homogeinezante, como se os problemas apresentados na cidade de Belém fossem os mesmos dele. Na verdade, Icoaraci apresenta problemas específicos que requerem soluções específicas do ponto de vista da cidade, do urbano e do ambiente. O planejamento como forma de intervenção do Estado sobre o espaço reforça a ideologia no sentido da homogeneização que encobre as contradições postas pela forma de produção, reprodução e dominação do espaço através da reprodução do capitalismo.
No que se refere aos problemas no ambiente, é possível identificar os de diversas naturezas, porém, os de maiores gravidades, a nosso ver e que chama bastante atenção, é a ocupação dos igarapés  Paracuri, Tabocal, orla da baía do Guajará, margem do furo do Maguari, áreas do igarapé no Tenoné e áreas de baixadas disseminadas no interior do núcleo urbano que podem ser identificados como os de maiores dimensões no ambiente, variando de forma de ocupação em geral por populações de menor poder aquisitivo, com habitação de forma popular, construídas com materiais dos mais diversos. Assim como na periferia dos bairros mais afastados do núcleo central.
Para cálculo do IDH da pesquisa no Distrito de Icoaraci são considerados indicadores para análise:  perfil sócio-economico do universo da população por meio de entrevista, num total de 382 pessoas; a segunda, estava relacionada à infra-estrutura local; e a terceira, à compreensão da população sobre as condições ambientais nos bairros  saúde, educação, saneamento, taxa de urbanização, renda per capita, IDH, longevidade (esperança de vida ao nascer).
O instrumento utilizado na pesquisa de campo foi composto por três partes: a primeira procurou diagnosticar o perfil socioeconômico
Para a definição de parâmetros e construção de indicadores para qualidade de vida foi realizada a  pesquisa de campo, realizada na área de estudo, que deu-se através da aplicação de questionário semi-aberto e de entrevistas, especialmente nas periferias e áreas de ocupação nos bairros de Icoaraci. Através das informações coletadas foi possível delinear um perfil dos moradores sobre qualidade de vida. Nessa perspectiva, os resultados do trabalho foram de suma importância e bastante reveladores por demonstrar as condições em que vive parcela significativa da população, assim como evidência as precárias condições em que essa população vive, provocado pelo perverso processo de urbanização que vem ocorrendo no país, nas últimas décadas, demonstrando que a mesma é extremamente excludente e segregadora  e, que em função dessas características, gera uma gama de problemas no ambiente da cidade relacionados às condições de vida de uma grande parcela da população de Icoaraci que se encontram em estado de pobreza, de miséria, de exclusão sócio-espacial-ambiental como conseqüência desse processo.
.A primeira parte da pesquisa analisou o perfil socioeconômico da população entrevistada. Nesta é perceptível o predomínio de pessoas do sexo feminino, a qual corresponde a 62 %, enquanto a masculina foi de 38 %. 110 Quanto ao grau de instrução, é marcante a baixa escolaridade, a maioria não possui o Ensino Fundamental completo, Esse fato, de certa forma, está associado à condição do migrante, principalmente das áreas rurais dos municípios e/ou de outras regiões, em que a permanência na escola é freqüentemente prejudicada em função de que a criança e/ou o jovem, nessa fase, são considerados como força-de-trabalho na terra a complementar a renda familiar ou levada por sucessivos deslocamentos.  
Ao associarmos a variável escolaridade e níveis de renda, esclarecemos porque mais de 50% dos entrevistados ganham até um salário mínimo. Os estudos realizados pelo Instituto de Pesquisa Econômica aplicada IPEA (2002) demonstram que a maioria da população do distrito administrativo de Icoaraci recebe em média um e meio salários mínimos, de renda média nominal dos chefes de família. Essa situação está relacionada em função das condições financeiras limitadas dessas pessoas e por não possuírem grandes qualificações profissionais. Quando chegam à cidade, a insuficiência do mercado regular de trabalho e a especulação imobiliária fazem com que a moradia, nas áreas com grande comprometimento no ambiente, sejam as únicas alternativas de moradia.
Considerando as condições de vida dessa população, é possível afirmar que os baixos salários estão vinculados aos níveis de escolarização, repercutindo na baixa qualificação da mão-de-obra da população. Pois do universo da população que foi entrevistada; 46 % não completaram o ensino fundamental; 16 % o médio; e apenas 2 % o superior. O que significa dizer que a maioria da mão-de-obra não tem qualificação que reflete nos baixos salários.
É mister destacar que fatores como a renda familiar da população da periferia dos bairros de Icoaraci reflete também os dados da Região Metropolitana de Belém revelados a partir da pesquisa realizada pelo IBGE, provenientes do censo de 2002. Para a realidade analisada, os sujeitos objeto da pesquisa revelaram uma situação bastante precária, haja vista viverem com renda mensal abaixo do que revelou a pesquisa do IBGE, Dessa forma, podemos inferir que a renda mensal de grande parte da população. Renda média nominal do chefe de família na RMB-1991 entrevista é insuficiente para suprir as necessidades
              O distrito de Icoaraci é um espaço no qual a urbanização e o meio ambiente são processos que se apresentam com maior evidências em bairros com sérios problemas dessa natureza, tendo em vista que o distrito vem passando nas últimas décadas por um intenso crescimento urbano que atingiu a cidade, a nosso ver, sem ocorrer desenvolvimento econômico, político, social e cultural.
              É no processo de produção e reprodução do espaço, como resultante das relações sociais, que compreendemos as questões relacionadas ao ambiente da cidade em constante processo de transformação. Entretanto, nas inúmeras visitas de observações, em contato direto com a população nas áreas na qual aplicamos os questionários, possibilitou-nos identificar características e contradições na forma como vivem parcelas significativas da  população, levando-nos a denominá-las de acordo com Ferrara (1999) de periferias da periferia.

REFERENCIAS BILIOGRAFIA

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[1] Profª Drª em Ciências Humanas área de concentração Geografia Urbana pela faculdade de Filosofia Letras e  Ciências Humanas pela  Universidade de São Paulo, professora da Faculdade Ipiranga Belém/Pará .e-mail mbenjamindasilva@hotmail.com .
[2] - Profº Dr em Ciências Humanas área de concentração Geografia Urbana pela Faculdade de Filosofia Letras e  Ciências Humanas pela  Universidade de São Paulo. Professor Dr. Escola de Aplicação da Universidade Federal do Pará. E-mail mbenjamindias@hotmail.com.
[3] Programa das Nações Unidas, para Assentamentos Humanos (UN-Habitat), relatório apresentado na abertura do Fórum Mundial Urbano – Vancouver/Canadá. Fonte: Agência Estado – 17/06/06.
[4] -Apesar da Constituição Federal de 1988 estabelecer a Política urbana no Título VII – Da Ordem Econômica e Financeira, os aspectos sociais e ambientais também fazem parte deste conceito e sua análise e aplicação deve ser integrada com os vários outros temas tratados em nossa Carta Maior
[5] -terra urbana, à moradia, ao saneamento ambiental, à infra-estrutura urbana, ao transporte e aos serviços públicos, ao trabalho e ao lazer, para as presentes e futuras gerações.” 5 (...) urbanismo objetiva a organização dos espaços habitáveis visando à realização da qualidade de vida humana. José Afonso da Silva (2006, p. 31)
[6] -Procuro denominá-los de “moradores de rios urbanos” em função do modo de vida que essa população procura reproduzir na cidade (possuem instrumentos de pesca, embarcações, criam animais e cultivam determinadas plantas em giraus, extraem produtos naturais de áreas florestas nas ilhas próximas da acidade etc.). Considero prematuro denominá-los de ribeirinhos urbanos, por falta de uma melhor discussão teórica capaz de sustentar essa definição.




As novas tecnologia de ensino na Educação Básica Mª de Jesus Benjamin da Silva Mário Benjamin Dias As novas tecnologias vêm modificando significativamente a relação do homem com o mundo, elas tem facilitado o trabalho, a comunicação e outras atividades do cotidiano, já que hoje se torna mais difícil pensar numa sociedade sem tecnologia, pois em cada segmento social encontramos a presença de instrumentos tecnológicos. Pertencemos a um mundo cada vez mais globalizado e digital, embora saiba-se que nem todos tem acesso a essa tecnologia. A globalização abriu novos caminhos e possibilidades para que se busquem novos conhecimentos, isto e, em todas as áreas principalmente a do ensino escolar. Essas transformações se materializam em diferentes formas (econômico, econômico, político-social, cultural, ambiental) no espaço geográfico. Esse período de aceleração espaço-tempo, impôs ao mundo da educação momentos caracterizados pela sociedade do conhecimento, mediada pelo chamado meio técnico-científico-informacional, no qual as complexas relações impõem novas formas de pensar, refletir, agir e se relacionar no e com o mundo. As tecnologias desenvolvidas nesse período e a força com que se disseminam na sociedade abarcando praticamente todas as atividades de produção, armazenamento, distribuição, comunicação e consumo de informações produzem expectativas em relação às formas de análise, transmissão e apreensão dos saberes (novas formas de produzir e consumir conhecimento). E, considerando que essas mudanças nem sempre são acompanhadas e repassadas no ambiente escolar (isso porque nem todos os profissionais têm oportunidade ou disponibilidade de tempo para tal) impondo novos desafios à escola no limiar do século XXI, a atuação dos docentes que desenvolvem seus trabalhos na Educação Básica deve ser repensada, pois os novos paradigmas requerem metodologias de ensino variadas associadas a novas tecnologias. Desta forma a escola não pode ficar excluída desta realidade virtual, devendo se apropriar e incorporar os avanços destas tecnologias na prática educativa, de forma adequada e eficaz, promovendo uma “virtualização” do conhecimento. Esse repensar, está ligado a uma concepção de educação democrática onde os diversos atores (diretores, professores, alunos, pedagogos, coordenadores, Estado e etc.) envolvidos nesse processo se articulem com o objetivo de oferecer um ensino de qualidade que permita ao homem se construir como tal, satisfazendo suas necessidades individuais, a busca por fins coletivos e a integração a realidade de seu tempo. Um sentido libertador que contribuirá para que nas escolas se promova uma educação em favor de todos os homens. E nesse contexto, para problemazar ainda mais vale ressaltar que na era moderna grande parte dos profissionais da educação passaram por um processo progressivo de atualização através da chamada “reciclagem padrão”, que consistia em capacitar esse profissional, relacionando-o às inovações, aos novos programas e tecnologias de ensino. Trata-se de estar constantemente atualizando os sujeitos que fazem a educação sobre os novos descobrimentos da ciência, e como esse conhecimento (seja ele teórico ou prático) pode ser utilizado para a ação no seu universo de trabalho. No caso dos professores, mais precisamente na área de ensino. Porém, essa “formação” acaba tendo um caráter de “informação”, onde o conhecimento torna-se quase um objeto concreto que existe independente dos indivíduos em que repousa. Ou seja, não sofre interação e tão pouco transformação ao ser utilizado pelos sujeitos que o transmitem, e nem pelos sujeitos que o apreendem. Isso acaba negando a importância desse profissional, tanto para formar alunos críticos e em sintonia com as transformações que se materializam no espaço geográfico, quanto para uma formação cidadã, amplamente articulada com questões sociais. Em decorrência desses fatores, defendemos uma formação continuada não como sinônimo de “continuísmo”, que está ligado a incorporação e transmissão de informações e novas metodologias de ensino para a manutenção de uma determinada estrutura ideológica vigente; e sim uma formação mais crítica (social) que não considere o corpo de conhecimentos disponível como algo fechado, verdadeiro e imutável. Neste contexto, o projeto de educação continuada consiste em estudar e proporcionar formas de capacitação articulada a mudanças importantes, tais como: metodologias associadas às novas tecnologias de ensino, voltadas para esses profissionais da educação. Um ensino que vá além do uso da linguagem oral e escrita, dos recursos do giz, quadro e livro didático, e educar para o desenvolvimento tecnológico, mediante a utilização das novas tecnologias das imagens, como dos novos produtos de software. Ressaltando o que é importante, ou seja, que os professores conheçam os objetivos, as diretrizes e normas governamentais, o posicionamento de seus elaboradores, a fim de que possam tornar suas práticas mais eficazes, e, por conseguinte, compromissadas com a superação das desigualdades, das injustiças, dos preconceitos, ultrapassando obstáculos por meio de uma formação continuada, já que se deve levar em consideração que esse profissional tem poucas oportunidades de continuar sua formação em nível de pós-graduação, em face de uma diversidade de fatores. Assim, a educação continuada está associada a uma formação teórica-prática, onde são utilizadas metodologias facilitadoras que possibilitem uma releitura do mundo decorrente das transformações que ocorrem no período contemporâneo, e da velocidade com que as mesmas são veiculadas e processadas, colocando à escola novos desafios. O que requer a formação de um novo professor, capaz de criar e adaptar procedimentos, de enfrentar a complexidade de situações do mundo moderno que se refletem no ambiente educacional. Por isso devemos refletir sobre nosso mundo, compreendendo-o do âmbito local, nacional e por conseguinte o planetário. A Geografia é um instrumento indispensável para entendermos essa reflexão, que deve servir de base para a nossa atuação no mundo. Aprender Geografia na Educação Básica tem sido percebido por muitos, como uma forma tradicional e antiga de lidar com os novos contextos, ou seja, com aulas expositivas, utilização do quadro de giz e algumas vezes mapas que apesar de ser instrumento fundamental para os geógrafos acabam sendo relegados pelos professores e se comparado as novas tecnologias um material estático. Esses recursos podem até ser eficaz, porém, esta forma de ensino não estimula os alunos. Deste modo, o ensino de Geografia deve ser ministrado através de outros recursos, que irão facilitar à assimilação desta disciplina. Na Educação Básica tem-se constatado que através das aulas expositivas, por vezes com utilização de mapas e alguns outros recursos, os alunos sentem dificuldades de apreender os conteúdos, assim, as novas tecnologias podem facilitar este aprendizado É importante ressaltar que a geografia enquanto ramo do conhecimento científico tem sua gênese atrelada a uma visão clássica tradicional, pois, desde que se institucionalizou como ciência no século XIX seu método de análise esteve pautado em uma lógica positivista, como enfatiza (STRAFORINI 2004, pg 57): O objetivo da escola tradicional é a transmissão de conhecimentos, ou seja, uma preocupação conteudista. Dessa forma, o aluno é visto como um agente passivo, cabendo a ele decorar e memorizar o conjunto de conhecimentos significativos da cultura da humanidade previamente selecionados e transmitidos pelo professor em aulas expositivas. O mundo é uma externalidade ao aluno, ou seja, não é dado a ele a possibilidade de sua inserção no processo histórico. Assim, o conhecimento é concebido como uma informação que é apreendida unicamente pela memorização. Esse método de análise dedutivo-inditivo buscava com o auxílio do corpo de conhecimentos científicos disponíveis o entendimento da realidade através da fragmentação, estaticidade e descrição de aparências e formas. Não concebendo o mundo em seu caráter múltiplo, complexo e contraditório. Negando assim, seu constante movimento (sua perspectiva histórica). Nas escolas a geografia que era ensinada não poderia ser diferente, pois os conteúdos eram tratados de forma superficial (repasse apenas), fragmentada, e sem qualquer relação com a realidade e a interdisciplinaridade. Porém, em meados da década de 70 esse contexto começou a mudar com a inserção do materialismo histórico-dialético como método de análise da ciência geográfica. Isso porque a geografia tradicional não conseguia mais explicar o mundo, não dando conta da complexidade de elementos e processos da sociedade daquele momento. O método materialista histórico e dialético utiliza a formação econômico-social para a compreensão dos fenômenos que se manifestam no espaço geográfico. Onde aspectos da realidade passam a ser pensados enquanto totalidade, constante contradição, e sobre uma perspectiva de mudança perpétua que leva em consideração os fatores históricos nas análises, ou seja, ilustram o caráter dinâmico do espaço geográfico. Esses fatores também se manifestam no ensino, pois com a inserção da chamada geografia crítica nas escolas, há a defesa da transformação da realidade social pelo saber crítico, construído na análise da produção do espaço geográfico pelo homem através da apropriação da natureza (mediada pelo trabalho), e da sua relação com a sociedade. Vale ressaltar que esse processo de transição da geografia tradicional para a geografia crítica não é algo consolidado, pois atualmente profissionais ainda trabalham a vertente tradicional, e outros que se dizem “críticos”, também continuam a exercer uma geografia fragmentada e sem construção, Nesse sentido (STRAFORINI 2004, pg 49) destaca que: Na verdade, a geografia crítica foi apresentada para a grande maioria dos professores através de livros didáticos, pulando a mais importante etapa: sua construção intelectual. Da mesma forma que os conteúdos chegavam aos professores de maneira pronta e acabada na geografia escolar tradicional, os conteúdos sob a luz da geografia crítica também assumiam o mesmo papel junto aos professores, ou seja, de essencialmente dinâmicos, na prática continuavam estáticos. É justamente para contribuir na solução dessas questões e formar um novo educador que estamos desenvolvendo o projeto “A geografia na educação básica: uma proposta de educação continuada para professores do Estado do Pará”. Seus objetivos principais são: organizar reuniões cientifica voltadas para a discussão do ensino de Geografia na educação básica; formação de grupo de estudo permanente que discutam sobre teorias da aprendizagem, utilização diferenciada de metodologias de ensino, educação à distância, entre outras; incentivar a produção científica, assim como a organização de eventos científicos e de um acervo voltado para o ensino de geografia na educação básica. Essas ações envolvem discentes da graduação em Geografia, como forma de complementação de sua formação acadêmica. Dentre as metas do projeto destacam-se capacitar o maior numero possível de professores de geografia da Educação Básica a partir das categorias geográficas; desenvolver habilidades de transposição didática do conhecimento acadêmico geográfico (produção de texto); instrumentalizar professores de ensino de geografia a confeccionarem recursos didáticos a partir de experiências vividas; desenvolver competência para a leitura, compreensão e produção de mapas, cartas, imagens, globos, etc (alfabetização cartográfica); desenvolver competências e habilidades para a utilização de novas metodologias de ensino (musica, internet, cinema, jornais, revistas, jogos interativos, tv etc.); ressignificar os processos avaliativos, levando em consideração os aspectos qualitativos e quantitativos na relação ensino-aprendizagem. Esse trabalho vem sendo desenvolvido por meio de oficinas de produção de materiais didáticos sobre as categorias do pensamento geográfico; da alfabetização cartográfica; da utilização de livros didáticos; uso de Internet no ensino de geografia; da mídia e o ensino de geografia; da literatura, da fotografia; a paisagem geográfica e suas diferentes formas de representação. Como forma de socialização dos resultados, estão previstos seminários sobre práticas docentes em geografia (ciclo de palestras, trabalho de campo, entre outros.). A proposta parte de uma concepção de educação e formação continuada em que os professores são vistos enquanto atores fundamentais que atuam na formação dos futuros cidadãos brasileiros. Se a educação e os professores continuarem a serem vistos como meros agentes passivos do processo, não atingirão a meta prevista, que é de formar cidadãos críticos e reflexivos.