AS CATEGORIAS
DO PENSAMENTO GEOGRÁFICO NA EDUCAÇÃO BÁSICA
Prof Dr Mário Benjamin Dias[2]
O
espaço geográfico, por sua vez compreendido, como produto sempre em
transformação, das diversas relações que a sociedade mantém, entre si e com a
natureza. É um espaço heterogêneo, desigual, cuja produção dificilmente será
compreendida, na sua essência pelo aluno sem ajuda formal de o professor(a)
trabalhar as categorias do pensamento geográfico.
A Geografia enquanto
ciência social possui em seu arcabouço um conjunto de categorias que expressam
sua identidade, ao discutir a ação humana no ato de modelar a superfície
terrestre[3]
O espaço, a região, o
território, o lugar e a paisagem constituem-se no resultado particularizado da
atuação humana na transformação do planeta. Diferentes conceitos, diversas
formas de caracterizar este ato de mutação, são produtos originários de cada
visão particular de mundo, de cada universo expresso na peculiaridade de cada
homem como ser único, de culturas geradas em civilizações singulares. Esta compreensão esta embasada na concepção de
cada professor de geografia, cuja a função educativa ultrapassa a simples
transmissão de conhecimento.
As “verdades” embutidas
em conceitos antagônicos, no interior de cada categoria geográfica são
freqüentemente, expostas como enunciados insofismáveis. Entretanto, são
produtos da decorrência da vida, do contacto dos homens com outros homens em
espaços e tempos desiguais, incrustados em numerosos e distintos universos
culturais. Portanto, os conceitos diferenciados sobre as categorias geográficas
são resultados desta individualidade.
Para analisar a
importância dessas categorias na disciplina geografia é preciso conhecer o embate entre as distintas maneiras de
encarar o ato de modelar a superfície terrestre é típico da Geografia, desde a
constituição e o enunciado de seus pressupostos metodológicos em fins do século
XIX. Neste período, encontramos no interior da Geografia clássica, a disputa
entre possibilitas e deterministas. Durante o transcorrer do século XX, a
Geografia Quantitativa neopositivista opõe-se à Geografia Regional de
Hartshorne e à própria Geografia clássica. Nos anos 1970, a Geografia Crítica
em uma vertente materialista histórica se contrapõe à Geografia Teorética.
Atualmente, o culturalismo coloca-se como contraponto às tendências marxistas.
O debate, portanto é extremamente proveitoso, pois confronta idéias, padrões e
resultados da relatividade das ciências como um todo
Cumpre salientar, após
estes pressupostos fundamentais, a importância do espaço nas diversas escolas e
posicionamentos geográficos. A Geografia clássica, institucionalizada como
resultado de sua sistematização ocorrida no final do século XIX, não
considerava o espaço como categoria chave.
A exceção deve se reportar às obras
de Ratzel que abordavam a questão do espaço vital. O espaço ratzeliano era o
espaço do poder estatal, consolidado por intermédio da expansão territorial. O
território para Ratzel seria a concretização formal do espaço, consolidada pela
ocupação de uma determinada área por um grupo humano exclusivo. Ainda dentro da
Geografia clássica, Hartshorne o grande teórico do regionalismo geográfico,
trabalhou o espaço de maneira implícita, apresentando uma área como sua
correspondência. É o espaço absoluto de Kant, existindo somente quando os
fenômenos encontrados em seu interior relacionam-se de forma única, não se
concebendo generalizações [4]
A revolução
teórico-quantitativa, ocorrida na Geografia a partir da década de 1950,
possibilitou o desaparecimento da categoria
paisagem como elemento de interpretação da realidade geográfica, bem
como estabeleceu novos parâmetros epistemológicos, calçados nas ciências da
natureza, principalmente na Física e na Matemática. O espaço surge como
conceito estrutural. Além da paisagem, o território desaparece das
interpretações quantitativas. O espaço passa a ser considerado sob a forma de
“planície isotrópica”, constituindo-se em um modelo.
Conseqüentemente, a
Geografia Quantitativa orientando-se pelo pensamento burguês, produz a
legitimidade de uma espacialidade organizada pelo capital.[5]
Estabelecendo-se como
contraponto da Geografia Teorética, tanto quanto da Geografia Classica, ambas alicerçadas no
Positivismo, a Geografia Crítica marxista surge entre os anos 1960 e a década
de 1970, estabelecendo novos paradigmas. A questão da ausência da análise
espacial e o significado do espaço motivaram debates entre geógrafos por todo
este período. Segundo Côrrea op. cit., para Harvey (1975) a espacialidade foi
negligenciada pela teoria marxiana, enquanto que para Soja (1993) o espaço foi trabalhado
como receptáculo, conceituação muito próxima dos modelos praticados pelas
ciências burguesas. A efetivação do espaço como categoria espacial surge nos
trabalhos de Henri Lefevbre apud Côrrea op.cit., estabelecendo-o com o espaço
social, em estreita correlação com a sociedade. O espaço para este autor é
concebido como o locus da reprodução da sociedade.
A concepção de Lefevbre
sobre o espaço amparou os trabalhos de Milton Santos, cuja preocupação maior
estabeleceu-se na formação do conceito de espaço social e de seus
desdobramentos para a realidade geográfica.
A Geografia humanista
surge também nos anos 1970, acentuando sua produção nas décadas de 1980 e 1990.
Dentro desta perspectiva, o subjetivismo, a intuição, os sentimentos, a
experiência, o singular tornam-se a base das análises geográficas. Em
conseqüência, a percepção torna-se o instrumento modelar da Geografia Cultural.
A paisagem e o território ressurgem como categorias imprescindíveis, fruto da
vivência do homem em um determinado lugar. O lugar torna-se o conceito-chave,
enquanto o espaço adquire o significado de espaço vivido[6].
Ao analisar a
importância do espaço para as diversas tendências da Geografia, verifica-se a
necessidade de se evidenciar o território, categoria de relevo na atualidade
desta ciência. Em conjunto com a paisagem, após décadas de ostracismo, ressurge
como componente central nas discussões geográficas. O território é considerado
atualmente como um espaço definido por um conjunto de relações de poder. Conseqüentemente,
o território será considerado um espaço controlado por grupos humanos,
produzindo territorialidades específicas, das quais o poder se origina. Este
processo é observado por intermédio de múltiplas escalas: mundiais, regionais e
locais, cuja espacialidade e temporalidade se expressam de maneira contínua ou
descontínua
As
conceituações contemporâneas sobre território colocam o espaço com a capacidade
de suportar diversas territorialidades simultaneamente, associadas com
temporalidades idênticas ou diferenciadas. Assim, em uma mesma cidade, em um
bairro específico ou até mesmo em uma rua, vários territórios podem conviver.
Os horizontes sobre o território ampliaram-se sobremaneira, nas últimas
décadas. A Geografia Cultural possibilitou a transposição da hegemonia da
Geografia Política, no tocante às questões sobre a territorialidade. Para a
Geografia Política Clássica, o estado era a única categoria a ser considerada
em sua análise. Hoje, a multiplicidade, a sobreposição territorial e a ausência
definida de fronteiras, ampliam as questões do controle do poder na realidade
geográfica, em todas as escalas.
O
espaço não está atualmente em evidência como nas décadas passadas, quando era
colocado como categoria preponderante nas monografias geográficas. Esta
preeminência surgiu a partir da década de 1960, quando um grande movimento de
renovação passou a ser construído. A Geografia Clássica que identificava a
região e a paisagem como principais categorias, passou a ser questionada, pois
não apresentava elementos necessários para a análise de uma sociedade repleta
de contradições econômicas e sociais. O
paradigma materialista tornou-se hegemônico. Surge a Geografia Crítica
apresentando a discussão do espaço como seu elemento norteador.
Em
fins dos anos 1980, novos padrões são estabelecidos. Com a Geografia humanista,
o território, a paisagem e o lugar tornam-se novamente categorias relevantes.
Entretanto, é imperativo que se esclareça a importância da espacialidade para a
Geografia. Como uma das principais categorias geográficas, deve ser considerada
de importância fundamental. Santos (1994
pg 28) define-a como essencial, pois concentra a materialidade onde a natureza
se transforma, em seu todo de forma produtiva[7]
O
lugar, identificado como outra categoria básica individualiza as metamorfoses
da natureza, construindo diferenças espaciais, portadoras em sua essência, das
diferenças geográficas. Há uma multiplicidade indefinida de espaços, tendências
e concepções oriundas de escolas geográficas distintas, produzida por visões de
mundo diferenciadas. Segundo o autor, esta variedade de conceitos pode
apresentar instrumentos adequados de análise do real, se definir princípios com
coerência interna, harmoniosos e que possuam dialogar entre si. O processo
analítico necessita de coesão interna expressa por intermédio de paradigmas
teóricos préestabelecidos. Como conseqüência, Santos (1994 pg 29) define
epistemologicamente o espaço desta forma:
..”O espaço não
é nem uma coisa, nem um sistema de coisas, senão uma realidade relacional:
coisas e relações juntas. Eis por que sua definição não pode ser encontrada
senão em relação a outras realidades: a natureza e a sociedade, mediatizadas
pelo trabalho...[8]
Milton Santos coloca
através desta conceituação, a importância da natureza e da sociedade na
constituição espacial. O antigo paradigma geográfico ressurge. O espaço seria o
movimento das relações entre a concretude física do planeta e a humanidade. A
mediatização realizada pelo trabalho produz a construção do espaço que se
vislumbraria como um conjunto indissociável de objetos geográficos, naturais e
sociais, com a sociedade em movimento. O espaço seria um conjunto de formas,
contendo frações da própria sociedade que se movimenta[9]
Dessa forma no decorrer
do processo histórico vários filósofos trabalharam a conceito de espaço,
Lefebvre, Kant, Castell, Santos, Newton, Soja entre outros. Soja (1993)[10]
exprime sua preocupação com o predomínio do espaço fixo, imutável, herança da
filosofia Kantiana, na Geografia:
Kant, filósofo alemão é
considerado o grande delimitador de épocas para o conhecimento humano. Produziu
seu trabalho intelectual no período de consolidação do sistema capitalista.
Nascido no início do século XVIII foi testemunha dos grandes acontecimentos
históricos de sua época. Sua obra marca a construção de uma filosofia que
refletiu a ascensão burguesa ao poder econômico e político. Para Douglas Santos
(2002 pg 72 ) Kant significou a síntese maior da vertente hegemônica do
pensamento burguês. Segundo o autor, Kant aproxima-se dos conceitos de espaço e
tempo newtonianos. Para Newton o espaço é visto como receptáculo, condição a
priori da ordenação das coisas
Kant apud Santos
esclarece sua definição de espaço:
...”O espaço não é conceito empírico,
extraído de experiências externas.Efetivamente, para que determinadas sensações
sejam relacionadas comm algo exterior a mim (isto é, com algo situado num outro
lugar do espaço, diferente daquele em que me encontro) e igualmente para que as
possa representar como exteriores [e a par] umas das outras, por conseguinte
não só distintas, mas em distintos lugares, requere-se já o fundamento da noção
de espaço. Logo a representação de espaço não pode ser extraída pela
experiência das relações dos fenômenos externos; pelo contrário. Esta
experiência externa só é possível, antes de mais nada , mediante essa
representação”... [11]
”... O espaço é uma representação
necessária a priori, que fundamenta todas as instituições externas. Não se pode
nunca ter uma representação de que não haja espaço, embora se possa
perfeitamente pensar que não haja objetos alguns no espaço. Consideramos, por
conseguinte, o espaço a condição de possibilidade dos fenômenos, não uma
determinação que dependa deles; é uma representação a priori, que fundamenta
necessariamente todos os fenômenos externos”... [12]
Portanto,
o universo em que vivemos é um grande cenário, a Geografia seria a ciência que
o descreve.[13]
O espaço absoluto é o espaço
receptáculo, é o espaço como a representação que não se transforma, é imutável,
tornando-se elemento preponderante para a Geografia tradicional, hegemônica
durante quase a maior parte do século XX. Ao contrário, a relatividade espacial
é condicionada pela metamorfose. O espaço altera-se pela ação humana. A
ascensão do marxismo como modelo metodológico, para a análise geográfica,
possibilitou o aproveitamento definitivo do conceito de espaço relativo.
A
relatividade espacial é retratada por Castells apud Soja op. cit., que a coloca
como resultado da ação humana:
...”O espaço não
é um ‘reflexo da sociedade’, ele é a sociedade. (...) Portanto, as formas
espaciais, pelo menos em nosso planeta, hão de ser produzidas, como o são todos
os objetos, pela ação humana[14]
Aproximando-se da visão
de Castells, Lefebvre apud Soja, op. cit., apresenta o espaço como produto da
atuação humana sobre a natureza, criticando sua pretensa neutralidade e sua não
interferência na sociedade, caracterizando uma possível entidade autônoma:
...”O espaço não é um objeto cientifico
afastado da ideologia e da política; sempre foi político e estratégico. Se o
espaço tem uma aparência de neutralidade e indiferença em relação a seus
conteúdos e, desse, modo parece ser ‘puramente’ formal, a epítome da abstração
racional, é precisamente por ter sido ocupado e usado, e por ter já ter sido o
foco de processos passados cujos vestígios nem sempre são evidente na
paisagem.O espaço foi formado e moldado a partir de elementos históricos e
naturais, mas esse foi um processo político. O espaço é político e ideológico.
É um produto literalmente repleto de ideologias”..[15].
Uma
dificuldade latente encontrada em quase todos os pensadores ligados a sua
postura metodológica baseada no materialismo histórico. O historicismo
individualizou-se como elemento primordial na condução das teorias sociais
críticas. O espaço geográfico foi deslocado à margem do materialismo dialético,
sendo que a organização espacial representou somente um palco, um espelho da
dinâmica social.[16] Henri Lefebvre constituiu-se em um membro
diferenciado no interior da intelectualidade marxista, trabalhando a inclusão
do espaço geográfico como produtor da sociedade, em uma dialética que exprime
um diálogo constante entre a sociedade e o próprio espaço, produto e
paralelamente produtor dos relacionamentos sociais. O homem constrói o espaço
geográfico e ao mesmo tempo é reflexo deste mesmo espaço, assinalando na
paisagem vestígios de um passado modelado por este relacionamento dialético,
aproximando a temporalidade e a espacialidade. Castells, na esteira de
Lefebvre, coloca a necessidade de se estabelecer leis que possibilitem a
explicação sobre o surgimento e o funcionamento do espaço criado, o espaço
geográfico
O
estabelecimento de estruturas metodológicas que coordenem e expliquem a
construção do espaço geográfico, foi uma das preocupações centrais nas obras de
Milton Santos. Em uma de seus trabalhos finais, “A natureza da Geografia.
Técnica e tempo. Razão e emoção” evidencia-se, com clareza sua ansiedade com a
magnitude desta tarefa, envolta na concepção de uma nova teoria que elucide a
formação do espaço e identifique e discuta questões epistemológicas da
Geografia:
...”Este livro
resulta, sobretudo de uma antiga insatisfação do autor diante de certo número
de questões. A primeira tem que ver com o próprio objeto de trabalho do
geógrafo. A essa indagação, com freqüência a resposta é buscada numa
interminável discussão a respeito do que é a Geografia...Desse modo, a
discussão é sobre o espaço e não sobre a Geografia; e isto supõe a domínio do
método... Um outro tema de nossa insatisfação é a famosa união espaço-tempo,
mediante a consideração da inseparabilidade das duas categorias”..[17]
Prioritariamente,
Santos (2002 pg 16) expõe sua concepção de espaço:
…”Como ponto de
partida, propomos que o espaço seja definido como um conjunto indissociável de
sistemas de objetos e de sistemas de ações. Através desta ambição de
sistematizar, imaginamos poder construir um quadro analítico unitário que
permita ultrapassar ambigüidades e tautologias”..
[18]
Conseqüentemente,
a partir deste alicerce metodológico, o autor pode reconhecer e reconfigurar as
demais categorias da Geografia: território, paisagem, região e lugar. No caso
específico deste artigo, consideramos prioritariamente as categorias de análise: espaço, lugar. território
e paisagem. Milton Santos definiu um paradigma sobre o espaço geográfico. E diz o
seguinte : A relação entre o homem e a
natureza é mediatizada pela técnica. Consideraremos a técnica como um conjunto
de meios instrumentais e sociais, com os quais o homem realiza sua vida, produz
e ao mesmo tempo, cria espaço.[19]. Todos os acontecimentos humanos devem ser analisados
sob a ótica da evolução das técnicas. Ampliando a definição, pode-se optar pelo
estabelecimento de um amplo sentido para o termo: Maximilien Sorre apud Santos coloca o fenômeno técnico presente
em todas as atividades humanas, não somente nas industriais. Santos diz que a
medida que a técnica se universaliza possibilita a evolução do homem em adaptação
ao mundo, produzindo espaços geográficos. Observa-se assim, que os objetos técnicos estão presentes em todas as
sociedades humanas. A paisagem é fruto da evolução dos objetos técnicos. O
espaço pode ser considerado um híbrido entre o meio natural e a técnica. A
integração da natureza e dos objetos técnicos produz o espaço geográfico.
Reafirmando a importância do meio técnico, Milton Santos evidência sua
importância espacial e temporal:
...”A
técnica nos ajuda a historicizar, isto é, a considerar o espaço como fenômeno
histórico a geografizar, isto é, a produzir uma Geografia com a ciência
histórica. Assim pode-se também produzir uma epistemologia geográfica de cunho
historicista e genético, e não apenas historista e analítico”...[20]
A unificação do tempo e
do espaço é outra discussão alicerçada por Santos. Considera a possibilidade da
concretização desta correlação, por intermédio da empirização do tempo, já que
o espaço tem componentes materiais que podem ser empirizados. A preocupação do
autor é totalizar a questão do tempo, do espaço e do mundo material. A
sociedade humana cria objetos técnicos que possuem materialidade, pois são
concretos, palpáveis. Paralelamente, estes objetos técnicos contraíram um tempo
específico, pois pertencem a um determinado momento histórico. Empiricamente, a
paisagem pode ser considerada elemento espacial e temporal, pois foi
estabelecida através de uma determinada técnica, predominante em um determinado
período da evolução humana. A técnica é datada, portanto sua temporalidade
adquire percepção através dos sentidos humanos.
A diferenciação de
lugares, uma das expressões fundamentais da Geografia baseia-se em espaços
diversificados e tempos diferenciados. Os objetos técnicos não são assimilados
igualitariamente por todo o planeta. Os lugares, considerados espaços locais
possuem características próprias: cultura e meio natural diferenciados. Desta
forma, influenciam a criação de novos espaços geográficos, em momentos
históricos díspares. Uma determinada técnica pode ser assimilada rapidamente
por todo o planeta, ou somente por algumas regiões ou por alguns locais
específicos. Nestes lugares convivem objetos técnicos relacionados a outros
períodos históricos. Constituem reflexos da empirização do tempo e da criação
de espaços geográficos específicos
O espaço geográfico é
visualizado como o resultado do desempenho do homem sobre a natureza,
configurado como um sistema de ações, criando objetos técnicos que alteram a
própria natureza e a sociedade humana. Santos, trabalha não somente a concepção
de espaço e das demais categorias de análise geográfica, mas também estabelece
discussões, aponta critérios sobre os fundamentos da Geografia, produzindo
alternativas para as grandes
dificuldades epistemológicas desta ciência. Em um universo de conhecimentos
repleto de diferentes interpretações sobre o espaço, a temporalidade, enfim
todas as construções geográficas, podem trazer uma ordenação estrutural, um
referencial metodológico, com novos paradigmas.
A conceituação de
espaço empregado nesse artigo caminha vinculada às interpretações
epistemológicas, que vêem a espacialidade como construção humana.
Conseqüentemente, o espaço relativo constituiu-se em um elemento condicionante
para a construção desta realidade.
O espaço não é visto
como palco, como representação ou o espaço absoluto O objeto técnico é o
instrumento material e temporal da paisagem, constituindo-se ela no ponto de
confluência da relação sociedade e espaço, possibilitando a concepção do espaço
social.
Conceituando
o território esse é muitas vezes confundido com o de espaço. Este
problema constituiu- se devido aos tênues limites fronteiriços entre as
categorias geográficas. Portanto, a necessidade de se discutir a conceituação
de território como categoria geográfica, se expressa por um imperativo
epistemológico. Ao trabalhar-se com a categoria território, reporta-se automaticamente
ao tempo. A temporalidade está expressa no território, tornando- se e uma
referência necessária.[21]
A
preocupação da Geografia com o território é antiga. Em conjunto com as
categorias espaço, região, paisagem e
lugar, o território estabelece-se como um de seus pilares. Na última década,
ocupou o lugar do espaço como categoria central, tornando-se prioritário nos
trabalhos epistemológicos. Esta tendência é visualizada desde o final dos anos
1980, quando se iniciou uma reformulação das tendências da ciência geográfica.
A partir desta fase, o território passou a ser considerado como uma de suas
categorias chave.
O
primeiro grande teórico da Geografia a trabalhar com a categoria território
evidenciou-se na figura de Friedrich Ratzel, um dos sistematizadores do
conhecimento geográfico. Sua obra foi construída no final do século XIX na
Alemanha, tornando-se um dos processadores da Geografia tradicional, alicerçada
no Positivismo de Augusto Comte
Moraes
(1992) coloca a definição de Ratzel de espaço e de território:
.”.. Os
diferentes fatores que impulsionam o progresso de um povo, colocando-o na senda
da civilização, possuem um pano de fundo comum: o ‘teatro’ onde se desenrola
tal processo - a superfície da Terra. A relação do homem com o meio seria uma
constante nos acontecimentos que interessam à história do homem, esse ‘ser
terrestre’. Daí a visão de Ratzel da ‘unidade telúrica, entre a história da
humanidade e a do planeta. A Terra é posta como substrato indispensável da vida
humana, sua condição universal de existência. O espaço, segundo ele, encerra as
condições de trabalho da sociedade, que aumenta progressivamente com o seu
desenvolvimento”..[22].
”... O
território seria, em sua definição, uma determinada porção da superfície
terrestre apropriada por um grupo humano. Observa-se que a propriedade
qualifica o território, numa concepção que remonta as origens do termo na
Zoologia e na Botânica (onde ele é concebido como área de dominância de uma
espécie animal ou vegetal). Dessa forma, o território é posto como um espaço
que alguém possuí, é a posse que lhe dá identidade”.[23]
Quando Ratzel define sua concepção
de território, concomitantemente especifica o surgimento da Geografia política.
A questão do surgimento do Estado é observada como conseqüência da preocupação
do homem, com a proteção de seu espaço de poder.
Por
outro lado, Raffestin (1993) produz uma crítica a Geografia Política,
definindo-a como uma Geografia estatal, desenvolvida por Ratzel, que
considerava o Estado como única organização dotada de poder político, capaz de
se estabelecer no espaço, construindo uma determinada territorialidade
Baseado
na teoria de Rafestin, Haesbaert agrupou as concepções de território em três
vertentes: a política - relações de poder de forma geral, a cultural –
priorizando a dimensão simbólica e subjetiva do fenômeno, a econômica, enfatizando a relação capital –
trabalho, e finalmente a interpretação naturalista, que compreende o território
como resultante da transposição da ordem animal para a organização espacial
humana.
Segundo
o próprio Haesbaert, estas concepções sobre o território podem ser englobadas
em uma nova sistematização, que se coordena através de conceituações
filosóficas.
Conseqüentemente,
passa-se a apresentar dois módulos interpretativos, o binômio realismo-idealismo
e o binômio espaço-tempo. A opção dependerá da posição filosófica do
pesquisador. Entretanto, a atualidade proporciona novas tendências na tentativa
de superação das dicotomias entre o materialismo e o idealismo.
O
autor coloca-se entre aqueles que utilizam não somente a dimensão social, mas
também a representação e o imaginário, relacionando-os com o objetivo da
superação da divisão do trabalho científico. Contribuindo novamente com a
discussão sobre a conceituação categorias geográficas Santos op. cit., (2002) coloca o evento como
um veículo de uma determinada possibilidade. O mundo é um conjunto expressivo
de inúmeras possibilidades, que podem ou não serem concretizadas. A atuação do
homem pode ou não materializá-las dentro de um espaço material específico. O
lugar é o depositário final dos eventos. Estes também podem ser identificados
como trajetos que as possibilidades produzem até se instalarem em uma
determinada organização espacial. A paisagem surge como forma de expressão dos
eventos nos lugares. Esses eventos possuem
características próprias.
...”Os
eventos também são idéias e não apenas fatos. Uma inovação é um caso especial
de evento, caracterizada pelo aporte a um dado ponto, no tempo e no espaço, de
um dado que nele renova um modo de fazer, de organizar ou de entender a
realidade[24]
Haesbaert (2005 pg 23) conceitua o território
desde sua origem, trabalhando as concepções etimológicas, próprias do cerne de
seu significado:
...”o território nasce com uma dupla
conotação, material e simbólica, pois etimologicamente aparece tão próximo de terra-territorium
quanto de térreoterritor (terror, aterrorizar), ou seja, tem a ver
com dominação (jurídicopolítica)nda terra e com a inspiração do terror, do medo
– especialmente
para aqueles que, com esta dominação,
ficam alijados da terra, ou no ‘territorium’ são impedidos de entrar. Ao mesmo
tempo, por extensão, podemos dizer que, para aqueles que têm o privilégio de
usufruí-lo, o território inspira a identificação (positiva) a efetiva
‘apropriação’”...[25]
Território para
Haesbaert teria dois significados. O primeiro estaria relacionado à questão
própria do poder político e, a outra, ligar-se-ia ao sentido de dominação, conseqüentemente
de apropriação.
Em conjunto com as
categorias espaço e território, a paisagem também apresenta diversas
conceituações. Em seu âmago, a paisagem é discutida com o objetivo de se
estabelecer o tipo e os níveis de relacionamento entre as relações sociais e a
natureza em um determinado espaço. Estas concepções contrapostas originaram-se
principalmente da existência de “escolas nacionais” que divergem quanto ao
entendimento de seu funcionamento como categoria geográfica, de suas
características e de seus fundamentos epistemológicos. A Geografia alemã
compreendeu a paisagem como um conjunto de fatores naturais e humanos.
Os autores franceses
relacionaram o homem com seu espaço físico. A Geografia quantitativa substituiu
o termo landscape por região, definindo-a como um conjunto
de variáveis abstratas deduzidas da paisagem e da ação humana. Paralelamente,
uma visão ecológica, surgida na Alemanha e nos Estados Unidos, identificou as
unidades de paisagem como conjunta de processos ecológicos. A maioria dessas
abordagens refletiu posicionamentos filosóficos de um determinado período
histórico. O Positivismo analisou-a a como elemento estático, o Marxismo
fixou-a como um elemento da ação entre o capital e o trabalho. Atualmente, a
paisagem possui uma abordagem holística, com o predomínio da visão
culturalista.[26].
Santos op. cit., aborda
a questão da paisagem em relação a categoria espaço e território,
diferenciando-as dentro de parâmetros específicos:
.”Paisagem e espaço não são sinônimos. A
paisagem é o conjunto de formas que, num dado momento, exprimem as heranças que
representam as sucessivas relações localizadas entre homem e natureza. O espaço
são essas formas mais a vida que as anima”..[27]
A palavra paisagem é frequentemente utilizada em vez da expressão
configuração territorial. Está é o conjunto de elementos naturais e artificiais
que fisicamente caracterizam uma área. A rigor, a paisagem é apenas a porção da configuração territorial que é
possível abarcar com a visão. Assim, quando se fala em paisagem, há, também,
referência a configuração territorial e, em muitos casos, o uso das duas
expressões é indiferente”. [28]
..Tudo
aquilo que nós vemos, o que nossa visão alcança é a paisagem. Esta pode ser
definida como o domínio do visível, aquilo que a vista abarca. Não é formada
apenas de volumes, mas também de cores, movimentos, odores, sons”...[29]
Compreender
a organização espacial é visualizar uma série de fatores que se interpõe
mutuamente. A paisagem é o fruto das transformações irregulares que o homem
produziu ao longo do tempo. Compreender a organização e a produção espacial é
visualizar uma série de fatores que se interpõe mutuamente.
A paisagem é produto das transformações
irregulares que o homem produziu ao longo do tempo. Envolve uma conjunto de formas heterogêneas,
de idades diferentes, pedaços de tempos históricos representativos das diversas
maneiras de realizar as coisas, de construir o espaço. A paisagem é cultura, é
o universo das condições políticas e econômicas, resultado da implantação
espacial das técnicas.
O espaço detém uma dimensionalidade palpável.
O território é a expressão do controle do espaço geográfico, por intermédio de
uma rede de relações de poder. A paisagem interioriza uma infinita categoria de realizações humanas, dispostas em tempos diferentes,
neste mesmo espaço. Em conjunto, estas categorias geográficas organizam
metodologicamente a análise da produção e do arranjo espacial
Após
a análise de todo esse referencial teórico a respeito das categorias geografias a questão posta é como trabalhar as
categorias geográficas em sala de aula,
partindo do principio que o termo “sala
de aula” e “ensino da geografia” aparecem fortemente ligado a Educação Básica pouco
ou nenhuma alusão a essas questões são feitas quando as aulas são
ministradas no ensino fundamental menor. Dessa forma é preciso que seja feita
reflexões a respeito das propostas de ensino de
Geografia para o ensino fundamental e médio, como se dá o ensino de um determinado tema nas
aulas de Geografia, como certo recurso
tem sido utilizado. É preciso, discutir a Geografia enquanto disciplina
escolar, tratando-a como um todo e não
de forma fragmentada.
É importante também pautar nessa
discussão a Geografia que se ensina e que, pelo menos em tese, rompeu com a
Geografia Classica. A Geografia gestada a partir do movimento
epistemológico, teórico-metodológico e político de ruptura realizado na
Geografia brasileira nos anos 70 e 80.
Será que o rompimento que se deu com a Geografia Classica chegou de fato às escolas de ensino fundamental e médio? Será que
a Geografia Crítica consolidou possibilidades metodológicas de ensino capazes
de propor a construção coletiva do conhecimento? Essas são perguntas de
respostas difíceis. Mas a constatação dos
problemas já é um bom começo.
“A Geografia é uma dessas coisas
chatas que inventaram para ser a palmatória intelectual das crianças”. Este fragmento do texto “Das
coisas sem serventia uma delas é a geografia” de Sousa Neto (1996, p.5), talvez
indique o caminho da primeira constatação a ser efetuada. Que Geografia está
sendo ensinada? E de que forma está se dando? A primeira pergunta remete-se à
epistemologia da Geografia e a segunda à metodologia, par inseparável.
A Geografia era uma espécie de
remédio ruim, considerava as crianças como folhas em branco, recipientes
vazios, objetos nos quais se deviam gravar as coisas que eram
verdades. Assim as crianças só podiam memorizar o que viam, mas não aprendiam a
pensar o espaço geográfico imediatamente vivido e relacioná-los à outros
espaços geográficos. Essa prática educativa se apresentava dissociada da
realidade, negando o aluno, fazendo com que ele não se visse não se reconhecesse. A escola e a Geografia ensinam, assim, um
espaço que não é o do aluno. Prática essa presente e reforçada por alguns s livros didáticos (com suas orientações cosmopolitas)
Por muito tempo esse tipo de
Geografia impediu ou deseducou as pessoas para a prática da cidadania. O homem
era visto/entendido como mais um elemento da paisagem para ser descrito. A
forma ganha mais importância do que o homem, a forma mais importante que o
processo; a aparência constituída que se descreve sem importar sua essência.
Como afirma Moreira (1987,p.23) “a opacidade sensorial implica, então, grave
consequência gnoseológica: discurso do imediato, a Geografia é uma ciência sem
trânsito entre a paisagem (aparência) e o seu próprio âmago (essência).
Então, se a intenção for, enquanto professores de Geografia, a de ajudar a formar cidadãos, é
preciso que os
alunos(as) aprendam a pensar seus espaços geográficos desde cedo. Para isso é
fundamental entrar em contato com as experiências sociais tecidas no seu fazer
cotidiano. Tentando considerar como é que meninos e meninas vêem as coisas onde
suas vidas são vividas, como se relacionam com os grupos sociais nos locais por
onde circulam, quais são as representações sociais que tem desses lugares.
Enfim, considerar a realidade em que os alunos(as) estão inseridas, levando em conta
as informações que já possuem e as experiências vivenciadas.
Contextualizar o ensino de
Geografia é perceber o mundo, considerar o saber que retrata a realidade e
entender a educação como forma de intervenção no mundo, comprometida com a
condição de educador e com a realidade social dos alunos.
E assim, muito mais do que
respostas que não levam a lugar nenhum, é aconselhável um diálogo acerca das categorias geográficas. Esta, nos parece, é a melhor maneira: partir do universo
conceitual das crianças, do senso comum (que é o nível de compreensão inicial
das crianças) para construir, junto com elas, os conceitos científicos. O
conhecimento disciplinar deve ser dinâmico para poder gerar novos
conhecimentos. Para reforçar a importância da construção conceitual
estabelecemos um diálogo com Callai (1999. Pg 99) que nos ensina que:
“ao construir conceitos, o aluno realmente aprende, por exemplo, a
entender um mapa, a compreender o relevo, o que é região, nação, município. Ao
conhecer, analisar e buscar explicações para compreender a realidade que está
sendo vivenciada no seu cotidiano, ao extrapolar para outras informações e ao
exercitar a crítica sobre essa realidade, ele poderá abstrair essa realidade
concreta, ir teorizando sobre ela e ir construindo o seu conhecimento. Ao
construir conceitos, o aluno aprende e não fica apenas na memorização”.
A construção de conceitos é,
assim, uma habilidade fundamental para a vida cotidiana, uma vez que
possibilita às pessoas organizar a realidade, estabelecer classes de objeto,
trocar experiências com o outro, construir conhecimento.
Callai (1999), destaca que as
representações sociais dos alunos são importante recurso na formação dos
conceitos, porque expressam o conhecimento cotidiano do aluno, ou seja, o que
ele conhece e que já é compartilhado socialmente, ajudam na superação do
relativismo e do subjetivismo no ensino.
Entendemos ser o ponto de partida
a prática social de alunos e professores enquanto indivíduos histórica e
socialmente situados, onde, a partir de atividades desafiadoras de amplo
questionamento sobre o conteúdo em foco para compreensão do fenômeno, podemos
construir o conhecimento numa perspectiva coletiva, crítica e que tenha
incluído os agentes como autores de produção do saber. A partir daí, obter
informações e estabelecer relações necessárias ao entendimento dessa realidade
numa dimensão de totalidade (conceito fundamental para apreensão do espaço
geográfico), e elaborada uma nova forma de entendimento das práticas sociais,
da reelaboração, da recontextualização lógica que funda o conhecimento escolar.
Retornando a discussão que inicia este texto, sobre
as
categorias geográficas não são formas nas quais
se depositam conteúdos, são conhecimentos que instrumentalizam os
professores, e é nesta perspectiva que visualizamos a proposição.
Concluí-se a argumentação acerca da metodologia do ensino de Geografia
afirmando uma das prerrogativas do ensino da ciência geográfica a partir das
palavras de Freire (1998, p.29) “o ato de estudar implica sempre o de ler,
mesmo que neste não se esgote. De ler o mundo, de ler a palavra e assim ler a
leitura do mundo anteriormente feita”.
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[1] Profª Drª em Ciências Humanas área de concentração
Geografia Urbana pela faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas pela Universidade de São Paulo, professora da
Faculdade Ipiranga Belém/Pará .e-mail mbenjamindasilva@hotmail.com .
[2] Profº Dr em Ciências Humanas área de concentração
Geografia Urbana pela Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas pela Universidade de São Paulo. Professor Dr.
Escola de Aplicação da Universidade Federal do Pará. E-mail mbenjamindias@hotmail.com.
[3] CÔRREA,
Roberto Lobato. Espaço, um conceito-chave da Geografia. in:CASTRO, Iná
Elias de. Geografia,
conceitos
e temas.
Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, p.15 – 47 1995
[5] -CÔRREA,
Roberto Lobato op.cit., p. 21 - 23.
[6] CÔRREA,
Roberto Lobato op.cit., p. 30.
[7] -SANTOS,
Milton. Metamorfoses do espaço habitado. Fundamentos teóricos e metodológicos
da Geografia. São Paulo: Hucitec, 1994, p. 28.
[10]
SOJA, Edward W. Geografias pós-modernas. A reafirmação do espaço na teoria
social crítica. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1993, p. 48.
[11] -
KANT apud
SANTOS, Douglas. A reinvenção do espaço. Diálogos em torno da construção do
significado de uma categoria.. São Paulo:
Editora UNESP, 2002, p. 180 - 181.
[16] - SOJA, Edward W., op. cit., p. 107
[18] - Ibid., op. cit., p. 21.
[19] Ibid., op. cit., p. 22
[20] - Ibid., op. cit., p. 23
[21] -
SPOSITO, Eliseu Savério. Geografia e Filosofia. Contribuição ao ensino do
pensamento geográfico. São Paulo: Editora UNESP, 2003, p.111.
[22][22]
MORAES, Antonio Carlos Robert. Ratzel. Coleção grandes cientistas sociais. São
Paulo: Ática, 1992, p.2
[23] Ibid. Ibidem
[25] -
HAESBAERT, Rogério. Da desterritorialização à multiterritorialidade. São Paulo:
Anais do X Encontro de geógrafos da América Latina, Universidade de São Paulo,
p. 6775.
[26] -
SHEIR, Raul Alfredo. Trajetórias do conceito de paisagem na Geografia.
Curitiba: R.RA’EGA, n º 7, 2003, p. 80 - 81.
[28] Ibid.
ibidem pg 104
AS NOVAS TECNOLOGIAS DE ENSINO NA EDUCAÇÃO BÁSICA
Mª de Jesus Benjamin da Silva
Mário Benjamin Dias
As novas tecnologias vêm modificando significativamente a relação do homem com o mundo, elas tem facilitado o trabalho, a comunicação e outras atividades do cotidiano, já que hoje se torna mais difícil pensar numa sociedade sem tecnologia, pois em cada segmento social encontramos a presença de instrumentos tecnológicos. Pertencemos a um mundo cada vez mais globalizado e digital, embora saiba-se que nem todos tem acesso a essa tecnologia. A globalização abriu novos caminhos e possibilidades para que se busquem novos conhecimentos, isto e, em todas as áreas principalmente a do ensino escolar. Essas transformações se materializam em diferentes formas (econômico, econômico, político-social, cultural, ambiental) no espaço geográfico.
Esse período de aceleração espaço-tempo, impôs ao mundo da educação momentos caracterizados pela sociedade do conhecimento, mediada pelo chamado meio técnico-científico-informacional, no qual as complexas relações impõem novas formas de pensar, refletir, agir e se relacionar no e com o mundo.
As tecnologias desenvolvidas nesse período e a força com que se disseminam na sociedade abarcando praticamente todas as atividades de produção, armazenamento, distribuição, comunicação e consumo de informações produzem expectativas em relação às formas de análise, transmissão e apreensão dos saberes (novas formas de produzir e consumir conhecimento). E, considerando que essas mudanças nem sempre são acompanhadas e repassadas no ambiente escolar (isso porque nem todos os profissionais têm oportunidade ou disponibilidade de tempo para tal) impondo novos desafios à escola no limiar do século XXI, a atuação dos docentes que desenvolvem seus trabalhos na Educação Básica deve ser repensada, pois os novos paradigmas requerem metodologias de ensino variadas associadas a novas tecnologias.
Desta forma a escola não pode ficar excluída desta realidade virtual, devendo se apropriar e incorporar os avanços destas tecnologias na prática educativa, de forma adequada e eficaz, promovendo uma “virtualização” do conhecimento.
Esse repensar, está ligado a uma concepção de educação democrática onde os diversos atores (diretores, professores, alunos, pedagogos, coordenadores, Estado e etc.) envolvidos nesse processo se articulem com o objetivo de oferecer um ensino de qualidade que permita ao homem se construir como tal, satisfazendo suas necessidades individuais, a busca por fins coletivos e a integração a realidade de seu tempo. Um sentido libertador que contribuirá para que nas escolas se promova uma educação em favor de todos os homens.
E nesse contexto, para problemazar ainda mais vale ressaltar que na era moderna grande parte dos profissionais da educação passaram por um processo progressivo de atualização através da chamada “reciclagem padrão”, que consistia em capacitar esse profissional, relacionando-o às inovações, aos novos programas e tecnologias de ensino.
Trata-se de estar constantemente atualizando os sujeitos que fazem a educação sobre os novos descobrimentos da ciência, e como esse conhecimento (seja ele teórico ou prático) pode ser utilizado para a ação no seu universo de trabalho. No caso dos professores, mais precisamente na área de ensino.
Porém, essa “formação” acaba tendo um caráter de “informação”, onde o conhecimento torna-se quase um objeto concreto que existe independente dos indivíduos em que repousa. Ou seja, não sofre interação e tão pouco transformação ao ser utilizado pelos sujeitos que o transmitem, e nem pelos sujeitos que o apreendem. Isso acaba negando a importância desse profissional, tanto para formar alunos críticos e em sintonia com as transformações que se materializam no espaço geográfico, quanto para uma formação cidadã, amplamente articulada com questões sociais.
Em decorrência desses fatores, defendemos uma formação continuada não como sinônimo de “continuísmo”, que está ligado a incorporação e transmissão de informações e novas metodologias de ensino para a manutenção de uma determinada estrutura ideológica vigente; e sim uma formação mais crítica (social) que não considere o corpo de conhecimentos disponível como algo fechado, verdadeiro e imutável.
Neste contexto, o projeto de educação continuada consiste em estudar e proporcionar formas de capacitação articulada a mudanças importantes, tais como: metodologias associadas às novas tecnologias de ensino, voltadas para esses profissionais da educação. Um ensino que vá além do uso da linguagem oral e escrita, dos recursos do giz, quadro e livro didático, e educar para o desenvolvimento tecnológico, mediante a utilização das novas tecnologias das imagens, como dos novos produtos de software.
Ressaltando o que é importante, ou seja, que os professores conheçam os objetivos, as diretrizes e normas governamentais, o posicionamento de seus elaboradores, a fim de que possam tornar suas práticas mais eficazes, e, por conseguinte, compromissadas com a superação das desigualdades, das injustiças, dos preconceitos, ultrapassando obstáculos por meio de uma formação continuada, já que se deve levar em consideração que esse profissional tem poucas oportunidades de continuar sua formação em nível de pós-graduação, em face de uma diversidade de fatores.
Assim, a educação continuada está associada a uma formação teórica-prática, onde são utilizadas metodologias facilitadoras que possibilitem uma releitura do mundo decorrente das transformações que ocorrem no período contemporâneo, e da velocidade com que as mesmas são veiculadas e processadas, colocando à escola novos desafios. O que requer a formação de um novo professor, capaz de criar e adaptar procedimentos, de enfrentar a complexidade de situações do mundo moderno que se refletem no ambiente educacional.
Por isso devemos refletir sobre nosso mundo, compreendendo-o do âmbito local, nacional e por conseguinte o planetário. A Geografia é um instrumento indispensável para entendermos essa reflexão, que deve servir de base para a nossa atuação no mundo.
Aprender Geografia na Educação Básica tem sido percebido por muitos, como uma forma tradicional e antiga de lidar com os novos contextos, ou seja, com aulas expositivas, utilização do quadro de giz e algumas vezes mapas que apesar de ser instrumento fundamental para os geógrafos acabam sendo relegados pelos professores e se comparado as novas tecnologias um material estático. Esses recursos podem até ser eficaz, porém, esta forma de ensino não estimula os alunos. Deste modo, o ensino de Geografia deve ser ministrado através de outros recursos, que irão facilitar à assimilação desta disciplina.
Na Educação Básica tem-se constatado que através das aulas expositivas, por vezes com utilização de mapas e alguns outros recursos, os alunos sentem dificuldades de apreender os conteúdos, assim, as novas tecnologias podem facilitar este aprendizado
É importante ressaltar que a geografia enquanto ramo do conhecimento científico tem sua gênese atrelada a uma visão clássica tradicional, pois, desde que se institucionalizou como ciência no século XIX seu método de análise esteve pautado em uma lógica positivista, como enfatiza (STRAFORINI 2004, pg 57):
O objetivo da escola tradicional é a transmissão de conhecimentos, ou seja, uma preocupação conteudista. Dessa forma, o aluno é visto como um agente passivo, cabendo a ele decorar e memorizar o conjunto de conhecimentos significativos da cultura da humanidade previamente selecionados e transmitidos pelo professor em aulas expositivas. O mundo é uma externalidade ao aluno, ou seja, não é dado a ele a possibilidade de sua inserção no processo histórico. Assim, o conhecimento é concebido como uma informação que é apreendida unicamente pela memorização.
Esse método de análise dedutivo-inditivo buscava com o auxílio do corpo de conhecimentos científicos disponíveis o entendimento da realidade através da fragmentação, estaticidade e descrição de aparências e formas. Não concebendo o mundo em seu caráter múltiplo, complexo e contraditório. Negando assim, seu constante movimento (sua perspectiva histórica).
Nas escolas a geografia que era ensinada não poderia ser diferente, pois os conteúdos eram tratados de forma superficial (repasse apenas), fragmentada, e sem qualquer relação com a realidade e a interdisciplinaridade. Porém, em meados da década de 70 esse contexto começou a mudar com a inserção do materialismo histórico-dialético como método de análise da ciência geográfica. Isso porque a geografia tradicional não conseguia mais explicar o mundo, não dando conta da complexidade de elementos e processos da sociedade daquele momento.
O método materialista histórico e dialético utiliza a formação econômico-social para a compreensão dos fenômenos que se manifestam no espaço geográfico. Onde aspectos da realidade passam a ser pensados enquanto totalidade, constante contradição, e sobre uma perspectiva de mudança perpétua que leva em consideração os fatores históricos nas análises, ou seja, ilustram o caráter dinâmico do espaço geográfico. Esses fatores também se manifestam no ensino, pois com a inserção da chamada geografia crítica nas escolas, há a defesa da transformação da realidade social pelo saber crítico, construído na análise da produção do espaço geográfico pelo homem através da apropriação da natureza (mediada pelo trabalho), e da sua relação com a sociedade.
Vale ressaltar que esse processo de transição da geografia tradicional para a geografia crítica não é algo consolidado, pois atualmente profissionais ainda trabalham a vertente tradicional, e outros que se dizem “críticos”, também continuam a exercer uma geografia fragmentada e sem construção, Nesse sentido (STRAFORINI 2004, pg 49) destaca que:
Na verdade, a geografia crítica foi apresentada para a grande maioria dos professores através de livros didáticos, pulando a mais importante etapa: sua construção intelectual. Da mesma forma que os conteúdos chegavam aos professores de maneira pronta e acabada na geografia escolar tradicional, os conteúdos sob a luz da geografia crítica também assumiam o mesmo papel junto aos professores, ou seja, de essencialmente dinâmicos, na prática continuavam estáticos.
É justamente para contribuir na solução dessas questões e formar um novo educador que estamos desenvolvendo o projeto “A geografia na educação básica: uma proposta de educação continuada para professores do Estado do Pará”. Seus objetivos principais são: organizar reuniões cientifica voltadas para a discussão do ensino de Geografia na educação básica; formação de grupo de estudo permanente que discutam sobre teorias da aprendizagem, utilização diferenciada de metodologias de ensino, educação à distância, entre outras; incentivar a produção científica, assim como a organização de eventos científicos e de um acervo voltado para o ensino de geografia na educação básica. Essas ações envolvem discentes da graduação em Geografia, como forma de complementação de sua formação acadêmica.
Dentre as metas do projeto destacam-se capacitar o maior numero possível de professores de geografia da Educação Básica a partir das categorias geográficas; desenvolver habilidades de transposição didática do conhecimento acadêmico geográfico (produção de texto); instrumentalizar professores de ensino de geografia a confeccionarem recursos didáticos a partir de experiências vividas; desenvolver competência para a leitura, compreensão e produção de mapas, cartas, imagens, globos, etc (alfabetização cartográfica); desenvolver competências e habilidades para a utilização de novas metodologias de ensino (musica, internet, cinema, jornais, revistas, jogos interativos, tv etc.); ressignificar os processos avaliativos, levando em consideração os aspectos qualitativos e quantitativos na relação ensino-aprendizagem.
Esse trabalho vem sendo desenvolvido por meio de oficinas de produção de materiais didáticos sobre as categorias do pensamento geográfico; da alfabetização cartográfica; da utilização de livros didáticos; uso de Internet no ensino de geografia; da mídia e o ensino de geografia; da literatura, da fotografia; a paisagem geográfica e suas diferentes formas de representação. Como forma de socialização dos resultados, estão previstos seminários sobre práticas docentes em geografia (ciclo de palestras, trabalho de campo, entre outros.).
A proposta parte de uma concepção de educação e formação continuada em que os professores são vistos enquanto atores fundamentais que atuam na formação dos futuros cidadãos brasileiros. Se a educação e os professores continuarem a serem vistos como meros agentes passivos do processo, não atingirão a meta prevista, que é de formar cidadãos críticos e reflexivos.
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